A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) passou o dia de ontem fazendo inspeção na Replan e desinterditou as instalações não afetadas pela explosão e incêndio ocorridos no dia 20.
De acordo com a ANP, a desinterdição ocorreu após verificação das condições de segurança do isolamento das unidades envolvidas no acidente por uma equipe da Agência. “A Petrobras também já havia enviado toda a documentação exigida pela ANP”, ressaltou.
A refinaria havia sido interditada no dia 24, para garantir a segurança operacional das instalações e evitar novos acidentes, diante da possível retomada da operação das unidades não afetadas. “A medida cautelar de interdição não incluiu as operações de tancagem e utilidades não afetadas pelo acidente. Também está em andamento o processo administrativo de investigação de incidente realizado pela ANP”, informou a agência.
A Petrobras afirmou as unidades não afetadas iniciariam a retomada das atividades ainda ontem. “No cronograma está prevista a normalização da destilação em dois dias, das unidades de craqueamento catalítico e hidrotratamento em três dias e das demais unidades não afetadas em até uma semana. Com isto, 50% da produção da refinaria será normalizada em até uma semana”, explicou a estatal.
TRABALHADORES
A direção do Sindipetro (Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo) informou que hoje vai conversar com os funcionários da Replan sobre a criação do Grupo de Trabalho, uma das propostas apresentadas pela entidade para garantir segurança no processo de partida e na operação da Replan.
A ideia é que o grupo seja formado por representantes do Unificado, da empresa e da base, com o objetivo de debater temas relacionados à manutenção, segurança do processo de partida e procedimentos operacionais. Para discutir o assunto, o sindicato realizará reuniões setoriais na sede da Regional Campinas em dois horários, às 10h30 e às 18h30.
“O envolvimento e a participação dos trabalhadores na formação desse grupo são muito importantes para focarmos nas questões que realmente são cruciais para uma rotina de trabalho segura”, afirmou o diretor do Sindicato Arthur Bob Ragusa.
Segundo a Petrobras, cerca de duas mil pessoas formam a força de trabalho da Replan, entre funcionários próprios e terceirizados.
Sindicato aponta problemas
Apesar de ter confirmado presença, o gerente geral da Replan, Regério Daisson Santos, enviou um comunicado no início da tarde para justificar sua ausência. Segundo ele, o trabalho para restabelecer os padrões de segurança da Replan impossibilitaram sua participação na reunião da prefeitura, o que trouxe revolta aos componentes da Audiência Pública. “É inaceitável que uma empresa do tamanho da Petrobras falte a uma reunião como essa”, disse o secretário de Meio Ambiente, Paulo Souza.
Representantes dos trabalhadores da Petrobrás afirmaram que a falta de atenção nos padrões de segurança e até questões políticas interferiram para que desembocasse no acidente que paralisou a Replan por ordem da ANP. “Muitos trabalhadores nos contam que a precarização chegou em definitivo e que a Replan deixou de ser referência”, afirmou o diretor do Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo, Gustavo Marsaioli.
Segundo ele, uma pauta foi encaminhada com itens para aprimorar a segurança e a manutenção e não foi atendida. A empresa, segundo ele, não cumpre o patamar mínimo de trabalhadores por unidade para garantir a segurança. “E com os planos de desligamentos ocorreu uma diminuição no número de trabalhadores”, afirmou. Hoje, a Replan processa 450 mil barris de petróleo por dia.
Prefeito quer ‘força-tarefa’
Em audiência pública realizada ontem na prefeitura de Paulínia, o prefeito Dixon Carvalho (PP) anunciou que adotará uma série de medidas para pressionar a Petrobrás a resolver os problemas de segurança e de manutenção da Replan e que culminaram com o acidente do último dia 20 de agosto. “Nossa intenção não é apenas ficar sabendo. Vamos emitir um decreto para instalar um grupo de acompanhamento para que não tenhamos mais esse tipo de problema”, disse o prefeito. “O incidente poderia ter tido consequências graves”, arrematou.
Desde o registro do acidente, o prefeito afirmou que entrou em contato diversas vezes com a gerência da Petrobrás. Na sua visão, não pode se repetir o que ocorreu no acidente com a área da Shell, em que Paulínia praticamente não teve ressarcimento pela multinacional.
O secretário de Meio Ambiente, Paulo Souza lamentou a ausência de qualquer representante da Petrobrás na reunião. “Está claro que falta conscientização por parte da cúpula da empresa. Foram dois acidentes em pouco tempo e o poder público tem direito á informação. Afinal, a própria população sabe que estamos em uma área perigosa”, disse o secretário, que sugeriu conversas para instalação de uma auditoria independente.
(com colaboração de Elias Aredes)