sábado, 23 novembro 2024

‘Plano de guerra’ busca conter os efeitos da crise no comércio

Entidades representativas dos estabelecimentos comerciais do Estado de São Paulo fazem uma projeção assustadora sobre as consequências da pandemia do coronavírus no setor.  A previsão é de que as lojas encerrem o mês de março com uma queda entre 15% de 20% nas vendas, por conta da quarentena instituída pelo governo paulista. 

Diante do quadro, os empreendedores negociam, junto ao poder público, a adoção de medidas emergenciais que lhes permitam continuar de portas abertas. E as próprias associações de classe adotam estratégias para difundir, entre os lojistas, novas estratégias de negócio, que não dependem da presença física do consumidor. 

O “plano de guerra” foi detalhado à reportagem do TODODIA pela vice-presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), Adriana Flosi. 

Ela também ocupa outros cargos estratégicos no setor. É vice-presidente da Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e presidente da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas), entidade que reúne duas mil empresas, dos mais diferentes segmentos. 

Adriana explica que os grandes magazines, por exemplo, já contam com canais virtuais para vender mercadorias, mas o e-commerce ainda não faz parte da cultura nacional. Representa uma parcela ínfima dos negócios. E os pequenos e médios empreendedores são os mais prejudicados. 

O isolamento social, diz, também é trágico para os profissionais autônomos e informais (como as manicures e as doceiras, por exemplo), que da noite para o dia ficaram sem receita e, neste momento, precisam ser protegidos. 

“Cabe ao governo federal esquecer um pouco a dívida pública e o equilíbrio fiscal e tomar atitudes emergentes”, disse. 

Associações comerciais relacionaram as ações que precisam ser tomadas para que se estabeleçam linhas de crédito e isenção momentânea de tributos às empresas, assim como a expansão do amparo a trabalhadores que nesta fase venham a perder o emprego (leia acima a relação dos tópicos já apresentados pela Facesp ao ministro da  Economia, Paulo Guedes). 

ESTRATÉGIA 

Enquanto aguarda respostas do governo federal, o setor se move.  Na região, a Acic passou a disponibilizar gratuitamente, pelas redes sociais, grande parte dos seus conteúdos de qualificação. São orientações jurídicas, econômicas e de gestão. O objetivo é criar uma grande rede de informações precisas para que cada empreendedor encontre a solução que melhor se encaixa no seu modelo de negócio. 

Além disso, o pequeno lojista é incentivado a promover vendas pelas redes sociais e por telefone, por exemplo, e entregar mercadorias por delivery. “Deve-se encontrar uma alternativa criativa para satisfazer o cliente, dentro de cada realidade”, afirma. 

O empreendedor também precisa negociar os encargos trabalhistas. Recorrer ao teletrabalho quando possível, antecipar férias individuais, conceder férias coletivas, utilizar o banco de horas. 

As empresas já contam com os benefícios disponibilizados pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que promete dar suporte a 150 mil empresas e preservar 2 milhões de empregos. 

As empresas não precisam depositar o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) de abril, maio e junho nas datas corretas. Os valores podem ser parcelados sem multa nem juros a partir de julho. 

Na esfera estadual, o Banco do Povo concedeu R$ 25 milhões em linhas de microcrédito para que os pequenos negócios possam suportar os impactos da pandemia. 

AS AÇÕES REIVINDICADAS

Tópicos do documento da Facesp entregue ao governo federal

1 – Garantir renda aos trabalhadores com o aumento do número de parcelas do seguro-desemprego para os demitidos.

2 – Usar recursos do seguro-desemprego para pagar parte dos salários dos trabalhadores que seguem empregados.

3 – Isentar parte da carga tributária da atividade, para que possa ser enfrentado o momento de restrição da demanda.

4 – Postergar o recolhimento das contribuições sobre a folha, tanto patronal como dos trabalhadores, com carência e parcelamento posterior.

5 – Facilitar o crédito com condições e prazos compatíveis com as dificuldades do momento.

6 – Montar com urgência um programa de investimentos públicos em infraestrutura e construção civil, com a retomada das obras paralisadas.

7 – Suspender/diferir/isentar o recolhimento de impostos das pequenas e médias empresas que são as que mais empregam e que em não tendo capital para sustentar essa crise, deverão encerrar suas atividades.

8 – Criar medidas que beneficiem os trabalhadores informais, os mais vulneráveis da roda econômica. 

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