O fogo destruiu todo o teto de madeira do charmoso coreto da Praça Marcílio Frezzarim, em Americana. O piso ficou tomado pelos cacos de telhas, que despencaram lá de cima, depois que as chamas tomaram conta da estrutura. Restaram no coreto o gradil de ferro lateral e os delicados ornamentos em metal trabalhado, circulando a base da antiga cobertura.
A equipe do Corpo de Bombeiros que atendeu à ocorrência, no final de semana, isolou toda a área, pois o que restou dos caibros chamuscados pode despencar a qualquer momento.
O cenário é de vandalismo puro, mas ele pode esconder um crime muito maior. Segundo os próprios vizinhos, o incêndio pode ter sido causado com o objetivo de espantar, da praça, pessoas em situação de rua que se abrigavam por lá.
QUEIXA ANTIGA
Há bastante tempo os moradores do bairro Frezzarin reclamavam do abandono do coreto, que no passado foi usado para apresentações da banda municipal, ou pelas missas especiais (como a de Corpos Christi), celebradas pelo saudoso padre Isaías Batistella, da Paróquia do Senhor Bom Jesus.
FOGO | Detalhe do teto do coreto, que foi destruído
Houve um tempo – até a década de 90 – em que as alamedas ao redor eram um ponto de encontro da população, e a garotada corria por todo lado. Os eventos rarearam com o tempo, até que o coreto se tornasse reduto de mendigos e – não raras vezes – de usuários de drogas. A praça belíssima de antes acabou virando reduto de grupos excluídos, o que acabou afastando os frequentadores antigos.
Os moradores do entorno, hoje, preferem ficar dentro de casa, protegidos por grades, e pouca gente se aventura a prosear nos bancos localizados no meio da quadra. À noite, o cenário é assustador. Volta e meia, policiais ou guardas municipais passam pela quadra, na tentativa de flagrar e reprimir o consumo de drogas. E, com medo daqueles frequentadores de hoje, o povo é reservado, e pede para não ser identificado.
“Os moradores se cansaram de ver a praça largada. Na certa quiseram limpar o coreto por conta e atearam fogo nos colchões“, diz uma senhora que mora há 50 anos naquela quadra da Rua Fortunato Faraone, bem diante da praça. Mas ninguém sabe dizer como as labaredas tomaram o teto.
Outro senhor, morador da Rua México, lembrou nostálgico do tempo que cada praça da cidade tinha um zelador específico, com as vassouras e rastelos guardadinhos ali, ao alcance da mão. “A gente chamava o zelador de guarda. Ele conhecia as crianças, cuidava da limpeza da calçada, aparava o mato, ficava de olho nos estranhos que apareciam. Era tudo bem cuidado, seguro”, disse. “Agora, a gente tem medo até de andar na praça”, diz.
MAIS DESRESPEITO
A destruição do coreto, aliás, é apenas uma das ações vândalas da semana na praça. O contêiner plástico, instalado na esquina das ruas Fortunato Faraone e Peru, foi arrebentado e tombado. Os moradores passaram a amontar o lixo ensacado sobre o canteiro. Mais uma agressão ao visual da praça.
Procurada pela reportagem, a prefeitura não se manifestou até o momento sobre que providências serão tomadas para a recuperação do espaço.
PRAÇA FOI INAUGURADA EM 1975
A Praça Marcílio Frezzarim foi inaugurada em 1975 pelo então prefeito Ralph Biasi. As alamedas foram construídas ao redor de árvores bem antigas, centenárias, que na época foram todas preservadas.
O lugar era conhecido como “Matinha”. O jardim nasceu ao mesmo tempo em que o bairro se desenvolveu, com a abertura de novas ruas. O coreto foi inaugurado na década seguinte, tomando o centro de um dos maiores canteiros da quadra. Hoje, além do teto incendiado, o coreto tem toda a alvenaria da base pichada.
SAIBA MAIS
– A praça do Frezzarin leva o nome do patriarca da família que era dona de todas as terras que hoje são tomadas pelo bairro, localizado entre as avenidas Campos Salles e Brasil, em Americana.
– Ao contrário do bairro, o sobrenome de Marcílio Frezzarim é grafado com “m” no final. Cada parte do clã assina de um jeito. Há até sobrenomes com um “z” só na grafia.