Para muitos trabalhadores, crise do novo coronavírus acaba forçando também uma reinvenção profissional
A crise econômica causada pelo novo coronavírus (Covid-19) se tornou um grande desafio para trabalhadores no Brasil e ao redor do mundo. Cortes salariais, demissões em massa e a impossibilidade de trabalhar diretamente com o público foram alguns dos desafios criados por esse novo cenário.
De acordo com a Organização Mundial do Trabalho (OMT), em torno de 1,25 bilhão de pessoas estão empregadas em todo o planeta em setores afetados diretamente pela paralisação das atividades por conta da pandemia.
O IBGE estimou em 14,8 milhões o número de brasileiros desempregados no primeiro trimestre desse ano, sendo que a taxa de desocupação subiu para 14,7%, a maior taxa e o maior contingente de desocupados de todos os trimestres da série histórica, que teve início em 2012. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
Mas, mesmo antes da pandemia, a vontade de reinventar-se profissionalmente já estava no horizonte da maioria dos brasileiros. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Gallup, 72% dos brasileiros já se sentiam infelizes em relação ao seu trabalho antes do surgimento da Covid-19.
Outro estudo, feito em conjunto entre a empresa Brands2Life e o LinkedIn, indicou que 79% dos trabalhadores brasileiros entrevistados não se candidatam à vaga de emprego que têm interesse.
STARTUP
Um dos exemplos de inovação e de reinvenção vem de uma empresa barbarense com uma proposta inovadora e que foi criada em março de 2020, em plena pandemia.
A ideia da startup Restin é trabalhar para combater o desperdício de alimentos de uma forma sustentável e lucrativa. A sede da empresa está localizada na incubadora de empresas José João Sans, no Jardim São Francisco, em Santa Bárbara d’Oeste.
O negócio funciona através de uma plataforma online no formato de marketplace, onde compradores e vendedores se reúnem para negociar de forma consciente, onde o consumidor pode ter acesso a alimentos mais baratos, mesmo que mais próximos do fim da validade ou fora dos padrões estéticos da indústria.
O barbarense Luciano Almeida, de 30 anos de idade, um dos fundadores da Restin, mora no Jardim Rosemary e trabalha há 13 anos na área de nutrição, dez deles voltados ao setor de food service em uma multinacional de alimentação coletiva da região.
“Eu acredito que toda crise gera oportunidades. Isso desde sempre. Eu fui contratado em 2008, um período de crise, na empresa onde trabalhei por dez anos. Com a pandemia de Covid-19 não foi diferente. Eu vi que era possível trazer soluções que as pessoas estavam precisando e comecei a perceber uma grande oportunidade de negócio”, contou.
A startup começou a ser construída virtualmente logo após o início da pandemia no Brasil, por volta de março de 2020, e foi lançada oficialmente no Dia Internacional da Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar do ano passado, que é comemorado em 29 de setembro.
Além de Luciano, a empresa começou a ser estruturada pelas sócias Franciele Barbosa, sua irmã, e a amiga americanense Mariá Possobom, assim como por outros amigos que entraram na sociedade depois.
“No começo foi bem complicado, porque a pandemia reduziu drasticamente os meus atendimentos. Eu tinha acabado de me mudar para o meu apartamento e não tinha nada lá, além de um colchão. Então eu passei praticamente uma parte da pandemia dormindo e trabalhando no meu consultório”, contou.
“Como estava tudo fechado por causa do lockdown, eu pude ter essa ‘oportunidade’, o que foi um desafio gigantesco para mim, além de ser uma forma de reduzir custos. Eu vi que as pessoas estavam começando a comer mais em casa e a desperdiçar alimentos, foi aí que vi uma oportunidade de gerar lucro com o desperdício. Usei esse período como um impulso para realizar o meu sonho”, concluiu.
luciano almeida | Um dos criadores da startup Restin