O anúncio foi feito nesta terça-feira (20) pelo porta-voz do Departamento de Estado, Ned Prince, durante entrevista coletiva
Pouco mais de uma semana após a realização de protestos em diversas províncias de Cuba, os EUA dão os primeiros sinais de como as mobilizações podem impactar a política externa e a relação bilateral entre os países. Os americanos estudam aumentar o contingente de sua embaixada na ilha e revisar a política de envio de remessas de dinheiro.
O anúncio foi feito nesta terça-feira (20) pelo porta-voz do Departamento de Estado, Ned Prince, durante entrevista coletiva. “Estamos revisando os planos para aumentar a equipe da nossa embaixada em Havana, para facilitar as atividades consulares”, disse.
Sobre as remessas de dinheiro, afirmou que um grupo de trabalho irá identificar as “formas mais efetivas de fazer com que as remessas cheguem diretamente às mãos do povo cubano”. A medida, argumentou Prince, teria o objetivo de “apoiar os cubanos em suas legítimas aspirações democráticas”.
Quando foram às ruas em 11 de julho, nos atos que já são considerados os maiores em pelo menos duas décadas, os cubanos levantavam diferentes bandeiras. Pediam políticas mais efetivas de combate à escassez de alimentos e remédios, mas também mais liberdade de expressão e atuação política. Ao longo de 2020, o PIB da ilha encolheu 11%, em grande parte devido à paralisação do setor de turismo, motor da economia cubana, com a pandemia de Covid-19.
A cúpula do regime minimizou os protestos, afirmando que aqueles que foram às ruas tinham aspirações “contrarrevolucionárias” e eram influenciados pelos EUA. Em diferentes discursos, autoridades cubanas imputaram ao bloqueio econômico -ou embargo, ou sanção- que os americanos impõem à ilha o motor da insatisfação popular.
Uma das proibições do bloqueio, que se estende por mais de 60 anos, era a de remessas de dinheiro de cubano-americanos que vivem nos EUA para Cuba. Barack Obama, enquanto esteve à frente da Casa Branca, afrouxou em parte as sanções. Em 2011, por exemplo, facilitou o envio de dinheiro para a ilha, em uma das medidas que configuraram uma aproximação diplomática histórica entre os dois países. Já o governo de seu sucessor, o republicano Donald Trump, recrudesceu as medidas e reverteu a reaproximação.
O governo de Joe Biden tem sido mais moderado em seus planos em relação a Cuba. Durante a corrida eleitoral, o democrata assumiu o compromisso de reverter algumas das medidas do bloqueio. Chegou a dizer que as considerava danosas à população e que nada faziam para impulsionar a democracia e os direitos humanos, mas não colocou nada em prática.
Na quinta (15), poucos dias após os protestos na ilha, atacou o regime da ilha, que caracteriza como “fracassado”, e disse avaliar possíveis ajudas ao povo cubano. Ponderou, porém, que seriam necessárias “circunstâncias diferentes e garantias” para colocá-las em prática.
A sinalização de um possível afrouxamento das sanções e um reforço da embaixada seguem a narrativa com a qual os americanos têm historicamente justificado o bloqueio. Na década de 1990, duas leis – conhecidas como Torricelli e Helms Burton– recrudesceram o embargo e também atrelaram o seu possível término à exigência de que Cuba democratize seu regime político.