Cidade dos parques aquáticos, Olímpia amplia “atrações secas” para reter os visitantes
Em 1958, a Petrobras não encontrou o petróleo que procurava ao perfurar o subsolo de Olímpia. Descobriu, porém, a mais de mil metros de profundidade, algo que mudaria a história da cidade: águas termais do aquífero Guarani. “Agora sabemos que foi muito melhor. O petróleo já teria se esvaído e produzido riqueza para fora”, diz o prefeito, Fernando Cunha.
Décadas depois, Olímpia virou um improvável balneário no noroeste paulista, que atrai mais de 2,5 milhões de visitantes ao ano com seus complexos de piscinas de águas quentes. O turismo responde por 67% da arrecadação da cidade, que tem dois parques aquáticos – entre eles o mais visitado da América Latina –, sete resorts e mais de 60 hotéis e pousadas.
A pretensão é se tornar uma espécie de “Orlando brasileira”, e a cidade planeja para breve um outlet de 100 mil metros quadrados, uma vila de entretenimento, um centro de convenções, um parque de diversões e mais hotéis e museus.
Algumas dessas obras já estão em andamento ou têm abertura prevista, como um museu de cera e o maior resort do Brasil com inauguração neste mês de agosto.
Depois de meses com atrações fechadas por causa da pandemia, Olímpia voltou a receber em junho centenas de milhares de famílias, vindas especialmente da Grande São Paulo. Elas percorrem os 430 km de distância até a cidade, interessadas especialmente no Thermas dos Laranjais, parque aquático mais visitado da América Latina.
O empreendimento, que começou em 1987 como um clube construído em uma plantação de laranjas, foi o impulso inicial para o turismo na cidade e hoje tem capacidade para 20 mil visitantes por dia.
Localizado em uma área de 260 mil metros quadrados, o Thermas tem mais de 50 atrações, inclusive uma montanha-russa aquática, duas praias artificiais, a única pista de surfe do Brasil e piscinas de ressurgência, nas quais o banhista não afunda.
Menor e mais reservado, o outro parque aquático, Hot Beach, é mais frequentado por famílias com crianças pequenas e idosos e por quem busca relaxamento. O parque tem poucos brinquedos radicais, mas conta com boa área infantil, piscina de ondas, praia, bar molhado e quiosques com guloseimas, entre elas os picolés de unicórnio e dinossauro, hit das crianças que visitam a cidade.
O Hot Beach é integrado aos hotéis do mesmo grupo, com entrada livre para hóspedes. São dois resorts e um tipo flat, o Hot Beach Suites, inaugurado neste mês. Com 442 apartamentos com sala, cozinha, varanda com churrasqueira e um ou dois quartos. Nas áreas comuns, piscina, bar, restaurante e brinquedoteca. O complexo vai ganhar outro resort com 800 quartos, previsto para 2023.
Os dois novos hotéis da construtora seguem o modelo de multipropriedade, que já existe em algumas cidades turísticas brasileiras e está se tornando o favorito do mercado hoteleiro de Olímpia.
Pelo sistema, regulamentado em 2018, cada cliente compra uma fração de um apartamento, podendo ocupá-lo por uma ou mais semanas por ano, dependendo do valor pago. A fração imobiliária se torna um patrimônio do comprador, que recebe a escritura e pode deixá-lo de herança, por exemplo.
É neste modelo que funcionará o Solar das Águas Park Resort, previsto para abrir em agosto e considerado o maior resort do Brasil em número de quartos – são mil unidades.
Para dar conta de todo esse público sem lotar ainda mais os parques aquáticos, a cidade de 52 mil habitantes precisa ampliar suas atrações. Empresários e poder público admitem que faltam “atrações secas” e diversão noturna e prometem melhorar a oferta.
Uma das iniciativas mais adiantadas é a Vila Ferrasa, área de lojas, bares e shows prevista para o fim de 2021.
Além de Orlando, Olímpia tem como referência o turismo de Gramado (RS). Uma empresa de lá, aliás, está construindo o museu de cera e um bar de gelo na cidade paulista.
O grupo também é proprietário do Vale dos Dinossauros olimpiense, parque com 38 dinossauros animatrônicos.
Fora isso, o Thermas do Laranjais expandiu sua área para crianças menores, e o Hot Beach começará neste ano a construir uma nova área kids e mais três piscinas.
A prefeitura também promete melhorias no Museu do Folclore, um novo mercado municipal e um centro cultural.
Segundo o prefeito, o objetivo de diversificar as opções é não só segurar por mais dias os turistas que já vão à cidade – essencialmente casais da região ou de estados vizinhos, com filhos –, mas também atrair visitantes de outros perfis e principalmente de mais longe.
A ideia é trazer não só brasileiros de outros estados – atualmente, apenas 20% dos visitantes –, mas até de países sul-americanos. A prefeitura estuda a implantação de um aeroporto local em 2027, já homologado, com capacidade para voos internacionais. Atualmente, os mais próximos são os de São José do Rio Preto, Barretos e Ribeirão Preto.
O clima quase sempre quente e as águas termais tornam Olímpia uma opção para quem não abre mão de piscinas mesmo no inverno. Não é, porém, um lugar para quem busca tranquilidade, ao menos na alta temporada.
Segundo o prefeito Fernando Cunha, desde o início da pandemia criou- -se um grupo de trabalho envolvendo poder público e empresários para gerenciar a crise sanitária, mantendo a cidade fechada quando foi preciso.
Ele afirma que, em Olímpia, a transmissão de Covid-19 é quatro vezes menor nas atividades turísticas do que no comércio, por exemplo, e que o setor está preparado para receber com segurança.