Pessoas de cidades do interior e de outros Estados participam da manifestação
Com cartazes golpistas que pedem o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal), a adoção do voto impresso e a instituição de um tribunal militar, manifestantes se reúnem nesta terça-feira (7) na Avenida Paulista, em São Paulo, em ato que deve contar com participação de Jair Bolsonaro (sem partido) a partir das 15h.
Durante a concentração do ato a favor do presidente, os principais organizadores pediram para que manifestantes gritassem “Fora Xandão”, em referência ao ministro do STF, Alexandre de Moraes. Além de falas sobre “limpeza do Congresso”, a concentração do ato teve ainda ao menos duas execuções do hino nacional.
Em um carro de som estacionado ao lado do Masp, pessoas discursavam contra o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e tocavam um jingle de ironia ao mandatário: “Calcinha apertada/ Ai, aí, aí”. Ao redor, pessoas cantavam e dançavam.
Marcelo, de São Paulo, que não disse o sobrenome e afirmou ser do ramo de alimentação, carrega dois cartazes pedindo a morte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e dos ministros do STF. “Lula ‘el diablo’, quero ler as manchetes sobre a sua morte. Morra logo”, diz a mensagem em traduzida para o português.
Questionado pela reportagem porque seus cartazes pediam “morte”, disse: “Porque todo esquerdista tem que morrer. Você é jornalista? UOL é da Foice de São Paulo. Todo esquerdista tem que morrer”.
Pouco antes, o familiar de duas senhoras de São José dos Campos, uma de 80 e outra de 81, tentou intimidar a repórter que as entrevistava: “O que você vai distorcer?”.
Incentivo a hostilidades
Diferente do início da manhã, o clima mudou em relação ao trabalho da imprensa a no início da tarde. Manifestantes passaram a anunciar aos gritos a presença de jornalistas e incentivar hostilidade contra eles.
“Não concordamos com muita coisa do Supremo [Tribunal Federal]. E também não concordamos com o governador [João Doria], que prometeu melhoria da polícia e não fez”
por Evaldo Batista, subtenente aposentado durante ato na Paulista
O casal subtenente Evaldo Batista e cabo Neusa Brandão, da reserva da Polícia Mlitar de São Paulo, se juntou aos protestos de 7 de setembro a favor do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na Avenida Paulista. Militares da reserva podem participar de protestos — o impedimento é apenas profissionais da ativa. O casal vestia uma camiseta dizendo “Polícia Nota =10; Salário Nota = 0”.
“O Supremo está tirando nosso direito à expressão. Mesmo na polícia aprendemos o respeito ao outro. A democracia é o princípio de tudo. Aqui não é comunismo. Lutamos para que o Supremo e o Congresso façam a vontade do povo”, completa cabo Neusa. Questionados a respeito da participação de militares da ativa fora de serviço, o casal disse que “os veteranos representamos todos”.
O casal Renato e Katya Breuel, comerciantes de Maringá (PR), chegou à Avenida Paulista por volta de 6h deste 7 de setembro. Vieram diretamente da rodoviária, depois de uma viagem de dez horas de ônibus da cidade paranaense até a capital paulista.
“Queríamos ir para Brasília [desde Maringá], mas é muito longe. Então, viemos para a Paulista. Dormimos no ônibus, não pegamos hotel. E vamos voltar hoje mesmo, de ônibus. A manifestação está servindo para testemunharmos para os militares o que estamos querendo”
por Renato Breuel, de 60 anos, do Paraná
“Queremos a demissão dos ministros do STF e o voto auditável. Se eles [os ministros do STF] não obedecerem, temos que paralisar o Brasil. A melhor ação será a dos motoristas de caminhão. Se a gente tiver que ficar com nossa loja fechada por um mês, pelo bem do Brasil, a gente fecha”, diz o comerciante paranaense, vestindo uma camiseta da seleção brasileira de futebol.
“E aí eles [os militares] têm que entrar. Se chegar o caos, com certeza os militares vão intervir”, completa. Outra pauta defendida pelo casal é a instituição de um tribunal militar. “O tribunal militar vai julgar o que o STF não julga. Graças ao STF, o Lula voltou à estaca zero. O Lula pode ser eleito ano que vem na base da fraude. E o Brasil pode cair na mão dos comunistas”, continua o manifestante.
Maringá é a cidade de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Questionados a respeito do ex-juiz da Lava Jato, o casal maringaense foi sucinto: “É um canalha”.
Virginia Verçosa, artesã de Campinas, veio ao protesto na Avenida Paulista com um casal de amigos, de carro. Dormiram em um hotel e esperam retornar hoje a Campinas. “O STF é ótimo. A questão é quem está lá. Precisa de uma intervenção militar para trocar os ministros [do STF]”, disse Virginia.
Divorciada de um militar que, segundo ela, também participa da manifestação na Paulista, Cristina diz que o espírito não é de guerra, apesar da pregação pela intervenção militar. “Ninguém está com espírito de confusão, mas de chamamento. Somos soldados do batalhão do amor de Jesus”, diz ela, que se apresenta como “espiritualista”.
Os manifestantes se concentram em torno do carro de som onde o presidente deve discursar por volta de 15h. Foram posicionadas grades de segurança há alguns metros do carro de som, mantendo um espaço livre, sem presença de manifestantes. Seguranças e até policiais federais impedem que as pessoas ingressem nesta área.
Desta forma, manifestantes não conseguem cruzar a Avenida Paulista, como costumava ocorrer em protestos anteriores. Há muita aglomeração neste trecho. A reportagem presenciou uma família com dificuldade para retirar uma senhora do local.
Por volta de 11h30, um helicóptero da Polícia Militar sobrevoou o centro do protesto a baixa altitude — mais baixo que alguns dos prédios da Avenida Paulista — e foi saudado pelos manifestantes. Algumas pessoas comentavam que o sobrevoo em baixa atitude — incomum — era uma sinalização de apoio da força aos manifestantes.
Poucas pessoas usam máscara de proteção contra a covid-19. Muitas vestem camisetas feitas especialmente para a ocasião, algumas delas indicando a cidade de origem. Grande parte menciona cidades do interior de São Paulo e do Paraná.