Por José de Paiva Netto
Aprecio bastante um pensamento da famosa fotógrafa alemã, radicada nos Estados Unidos, Ruth Bernhard (1905-2006): “Devo morrer jovem, independentemente da idade em que esse evento ocorra”.
Essa reflexão vem ao encontro do que sempre digo aos moços das Instituições da Boa Vontade (IBVs), independentemente de quantos anos possuam: jovem é aquele que mantém o ideal no Bem. Portanto, a contagem cronológica de vida não define realmente se você é moço ou idoso, apesar de alguns desafios naturais à idade. Existem jovens velhos e velhos jovens. Tudo é questão de mentalidade!
Por isso, quando falamos em moços na Seara da Boa Vontade, não levamos em conta seu tempo de existência. Referimo-nos, isto sim, a toda criatura que não perdeu o ideal fraterno. São todos aqueles que desejam progredir pelos caminhos da Paz, aqui na Terra ou já estando na Pátria da Verdade, afinal ninguém morre. Lá o progresso igualmente continua.
Uma breve explicação: assinalei o substantivo “ideal” com o adjetivo “fraterno”, tendo em vista o fato de que há “ideais” que não devem ser seguidos, como os que exaltam a violência, a intolerância e o preconceito.
E, ao me dirigir àqueles que preferem as trilhas da concórdia neste mundo cheio de brutalidades, não faço alusão aos covardes nem aos ociosos, uma vez que procurar ser pacificador exige coragem, que o diga Gandhi (1869-1948).
Se há muitos jovens do corpo em nossa lide, e fico satisfeito com isso porque a cultura se prolonga por meio deles, há também muitos integrantes da Melhor Idade que são joviais no Espírito e bastante ativos. Ora, ora!
Destacados personagens da História fizeram revolução em idade avançada.
Recorro à Antologia da Boa Vontade (1955) para ilustrar, de forma categórica, meu ponto de vista sobre o real significado de juventude:
“Quem, durante a existência, soube cultivar, lado a lado, Espírito e corpo não pode e nem deve aos 60 anos julgar-se velho. Considere-se, por exemplo, que ‘Kant, o famoso filósofo, escreveu aos 74 anos a sua Antropologia, a sua Metafísica, a sua Ética;
também aos 74, Tintoretto pintou uma tela de mais de 20 metros por quase 10, o célebre Paraíso; ainda aos 74, escreveu Verdi a sua ópera Otelo, aos 80, a sua obra-prima Falstaff e, aos 84, três imorredouras páginas religiosas: Ave-Maria, Stabat Mater e Te Deum; Catão, aos 80, começou a estudar grego; Lamarck, aos 78, publicou a História Natural dos Invertebrados; Goethe, só aos 80, completou sua obra-prima, o Fausto; Tennyson, aos 80, escrevia a sua célebre obra Crossing the Bar; Fontenelle, um dos enciclopedistas, dizia, aos 90, que nunca sentira a menor falha em sua memória ou em seu raciocínio; e o quadro histórico Batalha de Lepanto foi pintado por Ticiano, aos 88 anos de idade!'”
É bom refletirmos sobre isso.