Quase tudo no filme “Coração de Cowboy”, que estreia nos cinemas nesta quinta é brasileiro: diretor, atores, produtora, distribuidora, equipe. Mas não a estética. Locações, música incidental e figurinos lembram filmes americanos, principalmente dos anos 1980 e 1990.
O diretor Gui Pereira, radicado em Los Angeles e estreante em longas, usa os recursos que adquiriu nos Estados Unidos para testar no filme sua “homenagem à música sertaneja por meio do repertório de Chitãozinho e Xororó”.
Na trama de “Coração de Cowboy”, o ator Gabriel Sater, filho do violeiro Almir Sater, vive Lucca, cantor sertanejo de sucesso.
Em crise e cansado de cantar a vertente mais pop do estilo, conhecida como sertanejo universitário, ele viaja para sua cidade natal, para voltar às raízes. Lá, encontra um pai cheio de rancor -interpretado por Jackson Antunes- e se apaixona pela dona do bar da cidade -vivida por Thaila Ayala.
“Evidências”, talvez a música mais famosa da dupla sertaneja, toca na íntegra. A cena em que o casal se beija pela primeira vez foi pensada, desde o início, para ter a canção como trilha sonora.
“Saudade de Minha Terra”, “Não Desligue o Rádio” e “Deixei de ser Cowboy por Ela” são outras canções de Chitãozinho e Xororó que embalam o filme.
Gui Pereira não nega a pecha de “americanizado”. Com graduação na Los Angeles Film School e mestrado na prestigiosa CalArts (California Institute of the Arts), ele reconhece que teve uma formação bem americana, mas justifica a estética do filme, que se passa no Brasil: “É uma consequência da globalização”.
Para ele, o interior do Brasil e o dos Estados Unidos têm muito em comum. “Em termos de estética, o interior americano não é distante da realidade brasileira”, diz.
Em Knoxville, no Tennessee, epicentro da música country americana, o filme ganhou o prêmio do júri popular no Scruffy City Film & Music Festival.
Pereira inscreveu o filme em mais uma dezena de festivais de cinema, quase todos fora do Brasil. “Chegamos a mandar para [o festival de] Gramado, mas a estratégia mudou.”
A trilha sonora é assinada por Lucas Lima. “John Williams foi uma das grandes inspirações”, diz Pereira. O compositor americano venceu cinco prêmios Oscar por trilhas de filmes como “E.T. – O Extraterrestre” (182) e “Star Wars” (1977).
O diretor também destaca como atrativo do filme as participações do que ele chama de “os avengers do sertanejo”: Chitãozinho e Xororó, Rio Negro e Solimões e Rick (sem Renner).
Exclusivas e releituras
Algumas músicas de “Coração de Cowboy” são composições exclusivas para o filme, com direção musical de Lucas Lima.
Na trama, Lucca forma um trio com o irmão Guga (Henrique Filgueiras) e com Marcelle, interpretada por Giulia Nassa quando jovem e por Thaís Pacholek já crescida.
De forma semelhante ao que ocorre no longa “Dois Filhos de Francisco” (2005), que conta a história de Zezé Di Camargo & Luciano, Lucca perde o irmão em um acidente de carro. Só que, neste filme, a tragédia ocorre após uma discussão entre eles, e o pai, Joaquim (Jackson Antunes), passa a culpar Lucca pela perda.
Ele cresce e alcança o sucesso na carreira solo, mas perde a sua referência musical. De volta à terra natal, conhece Paula (Thaila Ayala) e retoma contato com o pai, Joaquim (Jackson Antunes), e a amizade com Marcelle.
O diretor do filme, Gui Pereira, conta que teve a ideia da história ao ouvir “Fogão de Lenha”, da dupla Chitãozinho & Xororó. “O filme fala da perda de identidade, da importância de os artistas não perderem a essência.”