Elaine Luzia dos Santos é a primeira pessoa com tetraplegia a conseguir se graduar no curso no Brasil, segundo a Unioeste
Ela é a primeira pessoa tetraplégica a se formar no curso no Brasil.
Elaine se comunica através da soletração, usando o olhar e uma tabela com letras divididas em cinco grupos, de um a cinco, para agilizar a formação de palavras, explica a pedagoga Clarice Palavissini.
A professora foi indicada pela universidade para auxiliar a médica durante a graduação. “A primeira linha é referente às 5 primeiras letras do alfabeto. […] Quando é a letra que ela quer identificar ela pisca”, explica a professora.
Perguntas com respostas sim e não, são respondidas com olhar para cima ou para baixo, respectivamente.
Superação
De acordo com Clarisse, a estudante foi dedicada do início ao fim da graduação, sendo um exemplo para os colegas. “Dedicada, não gostava de faltar, e se esforçava para estar sempre. Um exemplo para os outros acadêmicos”, destaca ela.
Para Rúbia Betânia Boaretto, professora da Unioeste, Elaine é o exemplo claro de que é possível trabalhar com a inclusão em todas as esferas sociais.
“Isso se chama inclusão e é muito bonito porque foi completa. […] A Elaine é inserida em um contexto de ensino com muita naturalidade, como dever ser. […] nada foi feito de modo a facilitar a vida dela, nós inserimos ela, mas nem por isso tornamos as coisas mais fáceis para ela”, argumenta ela.
Agora, Elaine quer se especializar em Radiologia. Os professores da aluna afirmam que ela consegue traduzir muito bem o que as imagens dos exames representam.
Inspiração
O exemplo de superação de Elaine já inspira outras pessoas. A cuidadora dela, Isabela Alves, diz que quer cursar medicina também. “Aí eu olho pra ela e me pergunto: por que não tentar? Ela tem todos os motivos para desistir e eu vou deixar passar a oportunidade?” comenta a jovem.
Para as dificuldades da vida, Elaine tem uma resposta pronta. Soletrando letra a letra ela descreve o que é a vida. “Buscar sempre ser o seu melhor”. O também médico e irmão de Elaine, fala com orgulho dela. Ele diz ser alegria imensa poder conviver com o exemplo de superação da irmã.
“É difícil descrever, ela é uma pessoa fora de série. […] Com certeza é uma pessoa muito iluminada que a gente tem a honra de conviver”, relata ele.
O sonho de ser médica
Amigos e familiares contam que Elaine sempre foi muito determinada. Em 2009, ela se formou em farmácia na Unioeste. Chegou a atuar na área por 9 meses. Mas, um ano depois de formada, decidiu que queria estudar medicina.
A mãe de Elaine, Adalva Alves dos Santos, relembra o momento. Ela conta que a filha foi aprovada em três instituições de ensino públicas após prestar o vestibular, mas Elaine decidiu continuar estudando na Unioeste para ficar perto da família.
O AVC
Até o terceiro ano do curso, Elaine tinha uma vida normal. Estudava muito, tinha aula em período integral e nunca faltava, conforme relataram os professores. Em 2014, aos 26 anos, ela sofreu o AVC. A cuidadora de Elaine, Isabella, relatou sobre como foi o dia do acidente.“Ela estava em casa […] era cerca de uma hora da madrugada. Ela foi no banheiro nausear e caiu, perdeu a força e ficou até as três da tarde aguardando por socorro médico. […] aí essa enfermeira ouviu o sussurro de socorro e bateu na porta… entrar com o socorro”, conta ela.
No caso de Elaine, o AVC foi na ponte do tronco encefálico, que fica acima da medula espinhal e que regula a respiração, pressão arterial e frequência cardíaca, interrompendo o fornecimento de sangue para algumas áreas. De acordo com a equipe médica que atendeu ela, esse tipo de AVC é raro e na maioria dos casos é fatal.
Elaine ficou 30 dias internada em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Ao sair, foi identificada a chamada síndrome do encarceramento, que é quando o paciente fica lúcido, mas perde todos os movimentos corporais e a fala.
Com informações do G1.