A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Furna da Onça para prender dez deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro envolvidos no esquema de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso há quase dois anos. Também são alvos um secretário da gestão Luiz Fernando Pezão (MDB) e um deputado federal eleito este ano pelo MDB.
Sete deputados estaduais são alvo pela primeira vez das investigações. Os demais são os deputados afastados Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi, todos do MDB, presos há quase um ano na Operação Cadeia Velha.
Foram expedidos no total 22 mandados de prisão e 47 de busca e apreensão. As ordens foram emitidas pela 1ª Seção Especializada do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), foro especial de deputados estaduais.
A nova investigação sobre a Alerj tem como uma de suas bases a delação premiada do economista Carlos Miranda, espécie de gerente da propina arrecadada por Cabral. Ele era o responsável por administrar todos os recursos ilegais obtidos pelo emedebista.
Foram alvos da operação os deputados André Corrêa (DEM), Marcos Abrahão (Avante), Neskau (PTB), Luiz Martins (PDT), Chiquinho da Mangueira (PSC), todos reeleitos este ano, além de coronel Jairo (Solidariedade) e Marcelo Simão (PP), que não conseguiram renovar seus mandatos.
O colaborador do Ministério Público Federal indicou que um grupo de políticos recebiam dinheiro de Cabral, em seu segundo mandato (2010-2014), em troca de apoio parlamentar -chamado de mensalinho pelo Ministério Público Federal. Os valores pagos mensalmente variavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil, dependendo da posição ocupada pelo deputado.
Arquivos entregues pelos doleiros Vinicius Claret e Cláudio Barboza, que operacionalizavam parte da propina de Cabral, corroboraram as informações do economista.
Também foi alvo da operação o secretário estadual de Governo Affonso Monnerat, atual braço-direito de Pezão. Há ainda mandados de prisão contra o atual presidente do Detran-RJ, Leonardo Jacob, e seu antecessor, Vinicius Farah (MDB), recém eleito deputado federal.
Há quase um ano, a Operação Cadeia Velha prendeu a cúpula do MDB na Assembleia Legislativa. Foram alvos o então presidente da Casa, Jorge Picciani, o ex-presidente Paulo Mello, e o líder do governo Edson Albertassi. Todos foram acusados de receber propina de donos de empresas de ônibus.
Os três permanecem presos -Picciani, em domiciliar, em razão de problemas de saúde.
O nome da operação, Furna da Onça, faz referência a uma sala nos fundos do plenário da Alerj, onde deputados costumam se reunir reservadamente.
TRIBUNAL NÃO SUBMETE PRISÕES DE PARLAMENTARES À ALERJ
A 1ª Seção do TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região) decidiu não submeter o acórdão que determinou a prisão de dez deputados estaduais à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), como determina a Constituição estadual.
A decisão foi tomada em razão dos desdobramentos da Operação Cadeia Velha, deflagrada há um ano. Na ocasião, a Alerj aprovou resolução para libertar os três deputados da cúpula do MDB e enviou um alvará de soltura direto para a Secretaria de Administração Penitenciária, sem informar o TRF-2, que havia determinado as prisões.
A Corte, em seguida, exigiu nova prisão e não consultou mais a Assembleia. Os deputados Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertassi seguem presos em razão da Cadeia Velha, e tiveram novo mandado expedido ontem.
PRESIDENTE DA MANGUEIRA É PRESO
Entre os presos operação deflagrada ontem, está Chiquinho da Mangueira (PSC-RJ), presidente da escola de samba Estação Primeira de Mangueira e deputado estadual reeleito.
De acordo com informações da Polícia Federal, o dirigente da verde e rosa é investigado, ao lado de outros nove companheiros de Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), pelo suposto recebimento de propinas mensais. A ele foram dados cerca de R$ 3 milhões em suborno, diz o MPF (Ministério Público Federal).