O Ministério Público de Goiás apresentou ontem a primeira denúncia contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, preso sob suspeita de abusar sexualmente de mulheres durante atendimentos espirituais em Abadiânia, no interior do estado.
Ele foi denunciado sob acusação de dois crimes de violação sexual mediante fraude e dois estupros de vulneráveis.
Os fatos ocorreram em 2018, segundo a promotora Gabriella de Queiroz -entre os meses de abril e outubro.
Mas a denúncia, que foi protocolada ontem à tarde e corre em segredo de justiça, contém os testemunhos de 19 mulheres, que relatam situações de abuso sexual ocorridas entre 1975 e 2018.
Dez desses casos estão prescritos, e cinco estão sob investigação. Todas as mulheres, porém, foram listadas como testemunhas.
“São depoimentos críveis, muito homogêneos. Grande parte das vítimas consegue provar que esteve no local, que passou por atendimento”, afirmou Queiroz. “Há laudos de profissionais, há pessoas que acompanharam as visitas e ouviram desabafos.”
A Justiça de Abadiânia ainda irá decidir se aceita ou não a denúncia. Caso o médium seja condenado pelos quatro crimes narrados, a pena pode chegar a 42 anos.
Em depoimento à Promotoria, o médium negou que tivesse praticado qualquer tipo de crime e afirmou não se lembrar das mulheres que o acusam.
Até agora, foram colhidos pelos promotores cerca de cem depoimentos formais de mulheres que afirmam terem sofrido abuso sexual pelo médium.
Na semana passada, ele foi indiciado pela polícia em relação a um caso específico, de uma mulher de 40 anos, que disse ter sido forçada a massagear a sua barriga enquanto ele estava com o pênis para fora.
Segundo a promotoria, novas denúncias devem ser apresentadas nas próximas semanas, já que dezenas de outros casos, “até mais fortes”, de acordo com Queiroz, continuam sob investigação.
No total, cerca de 260 potenciais vítimas entraram em contato com o Ministério Público até agora. “É um quadro de horror”, afirmou a promotora.
Anteontem, a Justiça decretou o bloqueio de R$ 50 milhões de João de Deus, para fins de reparação de danos de potenciais vítimas. A defesa ainda não se manifestou sobre a denúncia.