quarta-feira, 15 janeiro 2025

Áudios revelam rotina de assédio moral e palavrões a servidores por Guimarães

Novas acusações contra ex-presidente da Caixa e aliado de Bolsonaro são divulgadas pela imprensa 

O ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães era ofensivo a funcionários (Foto: Reprodução / Marcos Corrêa)

Áudios obtidos pela coluna de Rodrigo Rangel, no site Metrópoles, mostram o ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães ameaçando funcionários de demissão, além de uma rotina de xingamentos, em relatos de assédio moral. Indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2019, Guimarães pediu demissão, após denúncias de assédio sexual de funcionárias contra ele serem divulgadas pela imprensa.

“Caguei para a opinião de vocês porque eu que mando. Não estou perguntando. Isso aqui não é uma democracia, é a minha decisão”, diz Guimarães durante uma reunião com funcionários da Caixa.

Em outro áudio, Guimarães insinua que pode demitir funcionários que tomarem decisões sem consultá-lo. “Vocês são malucos. Vocês só têm a perder. Não tem que ligar para ninguém. Se eu não dei ok, não dei ok e acabou. Por que vocês vão tomar o risco de perder a função por uma coisa que eu não autorizei?”, questiona.

Guimarães oficializou na quarta (29), em carta, o seu pedido de demissão do cargo. No texto, entregue a Bolsonaro e divulgado em suas redes sociais, o economista declarou que combateu o assédio dentro do banco, negou as acusações e disse ser colocado em uma “situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”.

PIMENTA NO PRATO

Funcionários ouvidos pelo Metrópoles também relatam que Guimarães colocava pimenta em seus pratos e os obrigava a comer. Segundo os relatos, a prática acontecia especialmente em viagens de trabalho e era entendida como mais uma das técnicas controversas de Guimarães para motivar as equipes.

“Quanto mais você chora e passa mal, mais ele ri. Ele é bem sádico. Em toda refeição de trabalho com ele, tinha pimenta no prato de alguém”, diz uma servidora da Caixa, sob condição de anonimato.

Outra polêmica envolvendo Guimarães aconteceu em 2021 após ele colocar funcionários para fazer flexões durante um evento de fim de ano. Ele foi notificado pelo Ministério Público do Trabalho.

PESQUISA

Seis em cada 10 funcionários da Caixa relatam ter sofrido assédio moral no ambiente de trabalho, segundo uma pesquisa da Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal), realizada entre novembro e dezembro de 2021.

A pesquisa foi feita com 3.034 trabalhadores do banco estatal, tanto aposentados quanto da ativa. Entre os funcionários da ativa, 56% disseram ter sofrido esse tipo de assédio. Além disso, 70% dos entrevistados já testemunharam assédio moral em ambiente da Caixa.

Um dos servidores da Caixa diz que Pedro Guimarães chamava todo mundo de “pau mole, júnior e faixa branca”. As expressões eram usadas para dizer que o funcionário estava desempenhando mal uma tarefa. As ameaças de demissão eram cumpridas, o que explica a alta rotatividade na Caixa. 

Caixa vai contratar auditoria externa para apurar caso

O conselho de administração da Caixa Econômica Federal decidiu nesta quinta-feira (30) contratar uma auditoria externa para apurar as denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães, agora ex-presidente do banco, e rastrear outros membros da cúpula que acobertaram a situação.

A decisão de contratar uma empresa terceirizada para conduzir a apuração foi tomada após os relatos das mulheres vítimas de assédio indicarem que os episódios eram conhecidos por ao menos parte da diretoria e dos vice-presidentes da Caixa.

A avaliação do colegiado é que deixar a investigação nas mãos das instâncias internas de controle não é a melhor saída para obter um diagnóstico independente, dada a suspeita de envolvimento de outros integrantes da cúpula da instituição.

As definições se deram em reunião extraordinária do conselho de administração na tarde desta quinta, convocada em resposta à gravidade das acusações. A conduta do ex-presidente do banco também será alvo das apurações.

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