O legista relatou que o corpo do belga apresentava mais de 30 lesões, localizadas nos braços, pernas, tronco e cabeça
Uwe Herbert Hahn, cônsul alemão no Rio de Janeiro, foi preso em flagrante na noite de sábado (6) por ser suspeito de ter matado o marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot. Em depoimento na 14ª Delegacia de Polícia (Leblon), a secretária Valéria Teixeira de Castro, que também era amiga do casal, afirmou que ele enviou uma mensagem por meio do WhatsApp na qual disse: “Walter está morto. Teve um infarto”. O crime teria ocorrido em uma cobertura na rua Nascimento Silva, em Ipanema, zona sul carioca.
Ainda segundo o seu relato, Valéria afirmou que viu a mensagem por volta das 3h, mas só ligou para Uwe no período da manhã. A secretária relatou que o cônsul chorava muito e repetia que o marido havia morrido por causa de um infarto. Na sequência, ela informou que iria para a residência do casal no intuito de fazer companhia ao alemão.
Quando chegou ao local, o cônsul estava passeando com o cachorro do casal e eles se abraçaram. Depois, na cobertura, Valéria preparou um café da manhã para Uwe.
Nesse momento, o alemão narrou o que havia acontecido na noite anterior. De acordo com o que ele relatou à Valéria, o marido teria passado mal, corrido em direção a varanda e caído. Depois, o cônsul disse ter visto o cachorro lambendo uma mancha de sangue de Walter. Então ele pegou um balde com água e detergente e limpou o local.
Valéria afirmou em depoimento que orientou o cônsul a ir para o Instituto Médico Legal (IML), pedir a liberação do corpo do marido e realizar os trâmites necessários para o velório e enterro.
Contudo, segundo as investigações da Polícia Civil, o cônsul Uwe teria informado ao médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que o marido havia sofrido um mal súbito, batido a cabeça e morrido. No momento, o responsável pelo atendimento de Walter acreditou nessa informação. Porém ele não atestou o óbito e o corpo foi encaminhado ao IML, localizado no centro da cidade, onde passou por exame de necropsia.
O laudo realizado pelo perito legista Reginaldo Franklin Pereira atestou que Walter Henri Maximilien Biot morreu de hemorragia subaracnóidea (extravasamento de sangue entre o cérebro e o tecido), contusão craniana e traumatismo cranioencefálico, que foram provocados por ação contundente. Além disso, o corpo do belga apresentava mais de 30 lesões, localizadas nos braços, pernas, tronco e cabeça.
Outro ponto que levantou a suspeita da atuação do cônsul no crime foi que os policiais da 14ª DP encontraram na cobertura onde o casal residia os móveis fora de lugar e manchas de sangue no chão e em uma poltrona.
Por conta disso, o cônsul Uwe Herbert Hahn foi preso em flagrante como suspeito do homicídio. No vídeo da reconstituição da morte de Walter, ao qual O Globo teve acesso, o alemão relatou para a delegada Camila Lourenço que o marido estava bêbado, tropeçou no tapete e caiu no chão, entre a sala de estar e a varanda do apartamento.
Mesmo assim, o cônsul foi encaminhado à Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro, onde passou por audiência de custódia e teve a sua prisão preventiva decretada.
No domingo (7), a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, negou o pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do cônsul alemão Uwe Herbert Hahn.