sexta-feira, 22 novembro 2024

Cabral afirma que propina chamada ‘taxa de oxigênio’ beneficiava Pezão

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta terça-feira (27) que a propina cobrada na Secretaria de Obras, chamada de “taxa de oxigênio”, beneficiava Luiz Fernando Pezão (MDB), ex-vice-governador, secretário e seu sucessor no cargo (2014-2018).

Cabral disse que tinha conhecimento das cobranças sobre as empreiteiras de médio porte em programas da Secretaria de Obras, tais como Bairro Novo, para urbanização de bairros da região metropolitana. “Pezão participava dessa arrecadação. Era beneficiado, me dava ciência e prestava contas sobre benefícios a terceiros. Muitas vezes eu soube pelos próprios empreiteiros”, disse Cabral.

O ex-governador (2007-2014) afirmou que não recebia participação da “taxa de oxigênio”, mas era informado sobre parte de seu destino. Ele disse ainda que a propina beneficiou pessoas com foro especial, mas não mencionou esses nomes.

Pezão está preso desde novembro do ano passado, em decorrência da Operação Boca de Lobo. Na ocasião, ele foi acusado de receber uma mesada de Cabral de R$ 150 mil, produto da propina recebida pelo emedebista.
Cabral depôs na ação penal em que é acusado de dar anuência à cobrança de propina na Secretaria de Obras, comandada por Pezão e, depois, por Hudson Braga, braço direito do antecessor. Segundo o emedebista, os dois desempenhavam papéis distintos na abordagem aos empresários.
“Grandes empreiteiros reclamavam do tratamento açodado do subsecretario Hudson Braga. O Pezão era o mais tratável e o Hudson jogava mais pesado com as empreiteiras, por vezes até indelicado”, disse o ex-governador.
Cabral já foi condenado em dez ações cujas penas já somam 216 anos e meio. Ele responde a, no total, 30 ações penais decorrentes da Lava Jato -sendo um na Justiça estadual e os demais na federal.
Braga negou em interrogatório ter cobrado propina de empreiteiros. Ele disse que cobrou 1% sobre uma obra, na favela de Manguinhos, para complementar salário de servidores envolvidos no projeto.
“Essa cobrança foi determinada pelo governador e o vice-governador à época. Não tenho nada a ver com isso. Estão querendo me colocar no centro de algo que não tenho nada a ver”, disse Braga, já condenado na Operação Calicute por receber propina.
O advogado Roberto Pagliuso, que defende Braga, criticou o depoimento de Cabral.
“O ex-governador é um réu camaleão. Muda de pele conforme é de seu interesse. Já foi o réu coitado, o réu agressivo e agora é o réu colaborador. Em todas as posturas, não há qualquer compromisso com a verdade”, afirmou Pagliuso.
A defesa de Pezão não se manifestou sobre o interrogatório de Cabral.

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