quinta-feira, 21 novembro 2024

Flávio Bolsonaro lavou até R$ 1,6 milhão em loja, diz MP

O volume de depósitos em dinheiro vivo na conta da franquia da Kopenhagen do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) era desproporcional em relação a negócios semelhantes, afirma o Ministério Público do Rio de Janeiro. Os investigadores afirmam que a entrada dos recursos em espécie em favor da empresa coincidia com datas em que Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, arrecadava parte dos salários dos empregados do então deputado estadual. 

A suspeita é de que o estabelecimento, propriedade do atual senador desde 2015, tenha sido usado para a lavagem de dinheiro no suposto esquema de “rachadinha” em seu antigo gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), de 2007 a 2018. A loja foi alvo de busca e apreensão na operação de quarta-feira (18). 

O volume “lavado”, segundo o Ministério Público, pode chegar a R$ 1,6 milhão entre 2015 e 2018. Os depósitos de dinheiro vivo nas contas da loja teriam como objetivo “esquentar” os recursos obtidos ilegalmente, segundo a Promotoria. Eles poderiam simular vendas fictícias feitas pela empresa, dando aparência legal ao recebimento. 

Desde que Flávio assumiu a franquia até 2018, o volume de depósitos em dinheiro vivo foi o equivalente a cerca de 37,5% dos recebimentos por cartões de débito e crédito – de 2015 a 2017, esse percentual chegou a 41,8%. Em depoimento ao Ministério Público, o antigo proprietário da loja afirmou que essa proporção girava em torno de 20%. 

A Promotoria também identificou que essa proporção não se mantinha estável ao longo do ano. 

Em período de vendas maiores, como na Páscoa, o pagamento com dinheiro representava apenas cerca de 20% do recebido por cartões. Essa taxa aumentava nos demais meses do ano. 

Foi o que ocorreu entre 22 de novembro de 7 de dezembro de 2015, quando os depósitos em espécie foram equivalentes a 92% do recebimento por cartões. O período coincide com o início do pagamento de 13º de servidores da Alerj. 

A suspeita é que enquanto as vendas, na maioria das vezes feitas com cartão, variavam de acordo com a época do ano, as entradas de dinheiro vivo não respeitavam o movimento de clientes da loja, mas o repasse de salário dos ex-assessores de Flávio. 

“O uso de uma franquia dentro de um shopping center para lavar dinheiro não foi uma escolha sábia dos envolvidos na ação criminosa”, afirma o Ministério Público. 

O advogado Frederick Wassef, que defende o senador, afirmou que os agentes não encontrariam nada na loja que comprometesse seu cliente no cumprimento da busca e apreensão. 

“O que sabemos até o momento, pela imprensa, é que a operação pode ter extrapolado os limites da cautelar, alcançando pessoas e objetos que não estão ligados ao caso”, disse na quarta. 

MILICIANO 

Ainda segundo o MP, contas bancárias controladas pelo ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, foragido sob acusação de integrar uma milícia, foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz no suposto esquema de “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro. A conclusão é com base em dados da quebra de sigilo bancário e fiscal de Queiroz e da mulher de Adriano, Danielle Mendonça da Nóbrega, ex-assessora de Flávio. 

O pivô da investigação é Queiroz, policial militar aposentado que era assessor de Flávio. A origem da relação de Queiroz com a família Bolsonaro é o presidente da República. Os dois se conhecem desde 1984 e pescavam juntos em Angra dos Reis. 

Ontem, Jair Bolsonaro disse não ter nada a ver com as suspeitas contra o filho e seus ex-assessores. “O Brasil é muito maior do que pequenos problemas. Eu falo por mim. Problemas meus podem perguntar que eu respondo. Dos outros, não tenho nada a ver com isso”, disse. 

SENADOR NEGA ACUSAÇÃO E ATACA JUIZ 

O senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) negou nesta quinta-feira (19) que tenha cometido os crimes investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Ele criticou a atuação do juiz Flávio Itabaiana, responsável pelo caso, e questionou o fato dos promotores não terem denunciado ninguém após dois anos de apuração. 

“Esse juiz que virou motivo de chacota no Judiciário do Rio, que quebrou o sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas com apenas quatro linhas, sem nenhuma fundamentação”, disse o senador. Flávio vinculou a operação do Ministério público a uma tentativa de desestabilizar o governo de seu pai. 

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