Academias recebem mais interessadas nas modalidades
Os benefícios do esporte, no geral, já são conhecidos, a prática fortalece a musculatura, reduz o estresse e melhora a concentração, por exemplo. Em um universo com estereótipo masculino, as mulheres estão descobrindo cada vez mais a importância das lutas para o corpo e a mente.
Além de melhorar o físico, a busca pelas artes marciais tem um ponto muito comum entre as adeptas: a importância da defesa pessoal.
A atleta Rafaele Albertine, moradora de Santa Barbara d’Oeste e faixa marrom de jiu-jitsu, conta que começou a praticar a modalidade para adquirir a autodefesa.
“Eu sempre tive muito medo de andar sozinha, sempre me senti muito insegura, fui atrás de uma arte marcial porque ouvi falar que o jiu-jitsu traz essa autoconfiança, foi para perder o medo de andar sozinha e poder ir onde eu quiser, com a segurança de que caso aconteça alguma coisa eu vou saber sair da situação”, explicou Rafaele.
Casos de violência contra as mulheres
Em 2021, o Brasil registrou um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada sete horas, segundo o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Além disso, o assédio sexual é uma realidade na vida das brasileiras. Através de pesquisa registrada pelo Instituto Patrícia Galvão, 71% das mulheres conhecem alguma mulher que já sofreu assédio em espaço público, e 97% dizem já ter sido vítimas de assédio em meios de transporte.
Observando as estatísticas, torna-se cada vez mais importante que as mulheres aprendam a se defender em situações adversas.
A karateca Gabriela Detoni de Lima, moradora de Americana e faixa preta há 12 anos, também explica como o karatê impacta positivamente a vida das mulheres.
“Não só o karatê, mas as artes marciais como um todo, trabalham muito a postura da mulher, o autocontrole, a autoestima e saber como reagir à alguma situação, além de todos os benefícios físicos”, falou Gabriela.
A atleta começou a praticar a modalidade por influência do seu pai, ainda criança. “Eu comecei o karatê com 6 anos de idade, através do meu pai, ele gostava muito, começou a praticar e eu ia com ele nas aulas, me apaixonei e comecei desde pequenininha, depois que eu entrei nunca mais saí”, relatou a karateca.
Aumento da demanda
Para aprenderem a defesa pessoal, as artes marciais como jiu-jitsu, karatê, muay thai, boxe e judô estão sendo mais requisitadas pelo público feminino, mostrando uma quebra de paradigmas e estereótipos.
O professor de jiu-jitsu e representante da equipe FF Team em Americana, Lucas Filemon, explicou que por conta do aumento na procura, o centro de treinamento pretende ampliar os serviços.
O professor de jiu-jitsu e representante da equipe FF Team em Americana, Lucas Filemon, explicou que por conta do aumento na procura, o centro de treinamento pretende ampliar os serviços.
“Tem ocorrido o aumento na procura das mulheres, conquistando cada vez mais espaço, isso aconteceu a nível nacional e mundial. Nós aqui do Arena estamos querendo começar uma turma feminina de jiu-jitsu para poder atender de forma mais ampla esse público”, relatou Lucas.
Ele também relatou que é preciso mudar a realidade da violência contra as mulheres, mas também prepará-las para as situações.
“A mulher tem que sair do status de indefesa e frágil, para forte e preparada para qualquer situação do dia-a-dia, a gente sempre vem trazendo um pouco dessa filosofia, principalmente para o público feminino, que vem sofrendo cada vez mais com o aumento da violência, a gente precisa mudar isso, pode ser que leve tempo, mas precisamos preparar as meninas e mulheres para se defenderem”, contou Filemon.
Vítima de tentativa de assalto
Devido à estatura, muitas são vistas como “alvos fáceis” por criminosos, como aconteceu com a Rafaele, que sofreu uma tentativa de assalto em sua loja. Através dos treinos, ela conseguiu expressar uma postura de autoconfiança e o criminoso recuou, sem entrar em combate físico.
“Entrou um andarilho tentando assaltar a loja, quando ele foi um pouco mais agressivo, eu não demonstrei medo ou descontrole emocional, eu até me afirmei um pouco mais, ele deu uma recuada e depois da situação, eu percebi que realmente foi a arte marcial que me trouxe isso, essa segurança”, afirmou a atleta.
As lutas ensinam que, através das técnicas, é possível uma pessoa com estatura menor conseguir se sobressair à força em uma situação contra alguém mais alto e mais pesado, como normalmente são as situações de violência masculina.
Diante disso, essa reportagem pretende mostrar o quanto as artes marciais podem ser benéficas para as mulheres, com o aumento dos casos de violência, através das suas próprias percepções.