terça-feira, 26 novembro 2024

Petrobras tem prejuízo de R$ 48 bilhões no primeiro trimestre

A Petrobras decidiu adequar o valor de seus ativos aos novos preços do petróleo e anunciou prejuízo de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre de 2020. O balanço, divulgado nesta quinta (14), fala em lenta recuperação da demanda e mudança de hábitos de consumo após a pandemia.

A revisão reduziu em R$ 65,3 bilhões o valor de um conjunto de operações, principalmente campos petrolíferos, para adequar a previsão de receitas a um petróleo que oscilará nos próximos anos, segundo a companhia, entre US$ 30 e US$ 45 (cerca de R$ 174 a R$ 261) por barril.

Sem a revisão, a Petrobras teria registrado prejuízo de R$ 4,6 bilhões, com impactos negativos da queda das cotações internacionais do petróleo e da desvalorização cambial. O presidente da estatal, Roberto Castello Branco, diz que a recessão não afetou significativamente o resultado.

“O prejuízo contábil em nada afeta a saúde e sustentabilidade da Petrobras”, escreveu o executivo no relatório divulgado nesta quinta. “Trata-se de situação bastante distinta da vivenciada em 2014-2015 quando a companhia enfrentava duas crises, uma financeira e outra moral.”

Castello Branco justificou a revisão bilionária no valor dos ativos como uma medida para garantir transparência aos investidores. “Seguiremos em frente com um balanço mais aderente à realidade dos mercados e foco na geração de valor”, afirmou.

A empresa diz ter alterado seu conjunto de premissas macroeconômicas de planejamento, pois considera que haverá “uma lenta recuperação da demanda, com uma moderada mudança de hábitos em economias desenvolvidas”, que deve levar redução da demanda no longo prazo.

A mudança de hábito ocorrerá tanto entre os consumidores quando nas indústrias, que também reduzirão sua demanda, diz a Petrobras. Além disso, a empresa acredita que os elevados estoques de petróleo existentes no mundo retardarão o reequilíbrio entre oferta e demanda após a pandemia.

No fim de março, a estatal anunciou uma série de medidas para enfrentar a pandemia, como corte de investimentos e de produção, redução de salários e a suspensão de dividendos e dos bônus que seriam pagos a executivos pelo desempenho em 2019, quando a companhia lucrou R$ 40,1 bilhões.

Para manter recursos em caixa, a estatal sacou linhas de crédito de US$ 8 bilhões (R$ 40 bilhões na época do saque), o que elevou em 2,4% sua dívida em dólares. Com a desvalorização cambial, a alta em reais foi de 36%, para R$ 364,7 bilhões.

Já sob efeitos do isolamento social a partir de meados de março, as vendas de combustíveis pela companhia caíram 6% no trimestre, para 1,626 milhão de barris por dia. Já a produção de petróleo e gás natural recuou 3,8%, para 2,909 milhões de barris de óleo equivalente por dia.

No primeiro trimestre, a receita da companhia foi de R$ 75,4 bilhões, 6,5% maior do que a registrada no mesmo período do ano anterior, mas 7,7% menor do que a do quarto trimestre de 2019. O recuo reflete também a queda do preço do petróleo.

A área de exploração e produção teve prejuízo de R$ 44,6 bilhões com os efeitos da revisão no valor dos ativos. Já na área de refino, a perda foi de R$ 3,4 bilhões, com a venda a preços baixos de estoques comprados antes do colapso do preço do petróleo.

Os impactos da pandemia de coronavírus sobre as vendas no Brasil vêm sendo compensado parcialmente pelo aumento das exportações de petróleo, que atingiu recorde de 1 milhão de barris por dia em abril, e de combustível para navegação.

Com baixo teor de enxofre, o petróleo do pré-sal é adequado para a produção de combustível marítimo que atendam aos novos requisitos anti-poluição da Organização Marítima Internacional, que entraram em vigor no início do ano.

Para atender a demanda, a Petrobras decidiu no fim de abril rever corte de produção de petróleo que havia sido anunciado em março entre as medidas de enfrentamento da pandemia. Anunciou ainda que aumentaria a produção de combustíveis em suas refinarias no país.

Com a mudança no padrão de vendas, diz o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbertman, Petrobras o mercado externo ganhou peso na receita da companhia, passando a representar 35% das vendas. No mesmo período do ano anterior, era 26%.

“O recado do balanço é claro: diante do atual cenário, a companhia precisará continuar encontrando soluções, como o aumento da exportação, para atingir seus objetivos”, disse Arbertman.

Castello Branco diz que a estatal mantém seu programa de ativos e espera vender refinarias ainda este ano. A empresa continuará também buscando cortes de custos. Segundo ele, mudanças de regras anunciadas este ano atraíram 1,2 mil pessoas para o plano de demissão voluntária da companhia.

“É fundamental prosseguir na execução da estratégia de longo prazo enriquecida pelas lições que estamos aprendendo com esta crise e que nos ajudarão a operar com mais eficiência e menores custos”, afirmou.

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