domingo, 28 abril 2024

Atos pró-Bolsonaro e pró-democracia têm que ser em hora e local diferentes, diz Doria

Após atos a favor de Jair Bolsonaro (sem partido) e a favor da democracia (e críticos ao governo federal) acontecerem no último domingo (31) na avenida Paulista, o governador do estado São Paulo João Doria (PSDB) disse que não permitirá mais duas manifestações no mesmo local e na mesma hora.

“Estamos em acordo com a Prefeitura [da cidade de São Paulo] para que, a partir de agora, não tenhamos mais duas manifestações no mesmo local, no mesmo horário, no mesmo dia”, afirmou Doria nesta segunda-feira (1º). Bolsonaro pediu que seus seguidores não saiam no mesmo dia de seus críticos.

No domingo, os dois atos aconteceram ao mesmo tempo: um em favor do presidente e que teve integrantes carregando bandeiras neonazistas (além de críticas ao governador e pedidos de intervenção militar), e outro que foi organizado por torcidas de futebol paulistas, com bandeiras antifascistas -outras capitais também tiveram movimentos análogos iniciados por grupos de torcedores.

Houve confronto com a Polícia Militar, que usou bombas de gás lacrimogênio e efeito moral na região do Masp, onde estava o grupo crítico do governo.

Segundo relatos, um dos motivos do estopim foi a presença de uma mulher, apoiadora de Bolsonaro, comum taco de beisebol. Ela foi escoltada por um policial enquanto passava por torcedores e não teve o objeto apreendido.

“Este taco deveria ter sido retirado”, disse o secretário de Segurança Pública de São Paulo, o general Campos, que elogiou a conduta do agente por ter retirado a mulher da discussão apenas com o diálogo.

Danilo Pássaro, 27, integrante da Gaviões da Fiel que organizou a manifestação pró-democracia, disse à reportagem que a confusão começou quando os torcedores já se preparavam para deixar o local.

“A polícia passou escoltando um grupo com camisetas de organizações neonazistas e outro com fardas de militares, dando simbolismo de intervenção militar. Passaram bem no meio da nossa manifestação quando estávamos indo embora. Isso iniciou o tumulto, e a polícia começou a atirar bombas e balas de borracha”, afirmou.

Doria afirmou que o governo vai redobrar as ações de revista antes das manifestações.

Campos defendeu que o uso de bombas de gás lacrimogênio e técnicas de controle de multidões atendeu aos parâmetros de uso progressivo da força e afirmou que os batalhões agiram corretamente.

“A Polícia de São Paulo foi no mundo buscar as melhores formas de combater não só a área criminosa, mas também as manifestações”, disse o coronel Camilo, secretário-executivo da Polícia Militar.

Na ação, um fotógrafo da agência Efe se feriu na perna. Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, cinco pessoas foram detidas e conduzidas ao 78º Distrito Policial. Um homem de 43 anos, agredido no confronto, precisou ser levado à Santa Casa.

“Durante os trabalhos, houve briga generalizada, e a PM atuou para impedir o conflito entre os grupos antagonistas”, diz a nota da secretaria. A instituição também afirma que foram atirados objetos contra a tropa.

Na manifestação em favor de Jair Bolsonaro, chamou a atenção uma bandeira nas cores vermelha e preta que é usada pelo Pravyi Sektor (Setor Direito), organização paramilitar criada em 2013 que virou partido político na Ucrânia.
Sobre a presença de símbolos neonazistas, Doria disse que eles não são uma ofensa explícita.

“O fato de ter uma marca identificando um grupo neonazista já é um ponto de gravidade. Não houve ali, naquele momento, nenhuma ofensa à comunidade judaica ou manifestação que pudesse explicitar, apenas a identificação, o que pessoalmente lamento muito”, afirmou.

O dono do item é Alex Silva, que mora na Ucrânia mas está no Brasil desde março. Ele, que tem uma coleção de armas e treina grupos paramilitares, afirma que a bandeira não é neonazista.

“Nossa ideia agora é ser um ‘gatilho de pólvora’. É riscar o primeiro fósforo, já que os partidos de oposição e movimentos populares não se manifestam. Entendemos que tem pandemia, mas chega uma hora em que temos que mostrar que o povo quer democracia. Nós somos 70%. Não é possível que 30% vão impor vontade de ditadura militar.

A Gaviões foi fundada na ditadura, sabemos o que é isso”, disse Chico Malfitani, um dos fundadores da Gaviões de Fiel e presente na manifestação, ao Uol Esporte.

O grupo responsável pelo protesto reúne diversas lideranças e membros de movimentos organizados do futebol de diversos clubes. Estima-se que havia entre 2.000 e 4.000 pessoas no local.

O ato reuniu membros da Gaviões da Fiel, Mancha Alviverde, Independente, Torcida Jovem do Santos, Palmeiras Antifascista, Democracia Corintiana, Porcomunas, além de outros.

Doria ainda afirmou que confrontos enfraquecem a democracia e justificam o discurso autoritário de quem defende a volta da ditadura militar no Brasil.

“Já vivemos a pior crise de saúde do século, a mais grave crise social, a mais grave crise econômica e agora, a maior agressão à democracia desde a ditadura em 1964”, completou.

O governador criticou o presidente Bolsonaro, que, no último final de semana, foi a uma manifestação de seus apoiadores, em Brasília, andando a cavalo e sem usar máscaras.

“Qual o sentido de um presidente da República desfilar a cavalo em meio a 30 mil mortos por coronavírus? Qual a razão? O que ampara um ato desta natureza em meio a uma pandemia, com mais de 500 mil brasileiros adoentados, milhares que já perderam suas vidas. O presidente passeia a cavalo enquanto a pandemia galopa, Bolsonaro passeia a cavalo e a crise segue sem rédeas”, afirmou.

Ele pediu que Bolsonaro pare de utilizar as redes sociais, por exemplo, para hostilizar quem não o apoia e disse que o presidente governa apenas para seus apoiadores.

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