Desde o começo de maio até a segunda semana de junho, mais de quatro milhões de brasileiros que estavam temporariamente afastados do trabalho por causa do distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19 tiveram que retornar ao trabalho ou foram demitidos de seus empregos, divulgou nesta sexta-feira (3) o IBGE.
Segundo o resultado semanal da Pnad Covid-19, edição extraordinária da pesquisa do IBGE criada para medir os efeitos do novo coronavírus sobre a população e o mercado de trabalho, cerca de 1,1 milhão de pessoas retornaram ao serviço ou sofreram dispensa entre a primeira e a segunda semana de junho, data de referência do levantamento.
O estudo identificou 12,4 milhões de pessoas que ainda estão trabalhando afastadas devido às medidas restritivas de circulação. No início do mês anterior, eram 16,6 milhões de brasileiros nessa situação. De acordo com Maria Lucia Viera, coordenadora da pesquisa Pnad Covid-19, a queda pode significar algum retorno ao trabalho, mas também dispensa de pessoas dos seus empregos.
“Nessa comparação se observa o aumento da população desocupada em dois milhões, e que agora fazem parte da população fora da força. Então pode ter ocorrido esses dois efeitos”, afirmou Vieira.
A população desocupada foi de 9,8 milhões na primeira semana de maio a 11,8 milhões na segunda semana de junho. No mesmo período, o número de pessoas na força de trabalho aumentou de 93,7 milhões para 95,3 milhões. Já os brasileiros ocupados recuaram de 84 milhões para 83,4 milhões, segundo os dados divulgados pelo IBGE.
O IBGE ainda classificou que 83,5 milhões das 170 milhões pessoas estavam em idade para trabalhar estavam ocupadas, número estável desde a primeira semana de maio.
Desses, 8,5 milhões (12,5% dos não afastados pela pandemia) trabalharam de forma remota, resultado idêntico ao do começo de maio, mas que vem oscilando ao longo das últimas semanas, chegando a 8,9 milhões na primeira semana de junho.
Já os desempregados que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego por causa da pandemia ou por falta de vagas no local onde vivem somaram 18,2 milhões de pessoas, ou 68% dos não ocupados que não buscaram por trabalho e gostariam de trabalhar.
Outro resultado da Pnad Covid estimou que, na segunda semana de junho, 15,6 milhões de pessoas (7,4% da população) apresentavam pelo menos um dos 12 sintomas associados à síndrome gripal, como febre, tosse, dor de garganta, dificuldade para respirar, dor de cabeça, dor no peito, náusea, nariz entupido ou escorrendo, fadiga, dor nos olhos, perda de olfato ou paladar e dor muscular.
De acordo com o IBGE, esse contingente ficou estável frente à semana anterior e caiu em relação ao resultado obtido entre os dias 3 a 9 de maio, quando 26,8 milhões (12,7%) relataram os sintomas.
A Pnad Covid-19 também mostrou que cerca de 3,0 milhões de pessoas (19,2% dos que apresentaram algum sintoma) foram em busca de estabelecimento de saúde, marca que permaneceu estável na comparação com a semana anterior e queda frente à primeira semana de maio. Na ocasião, esse contingente ficou em 3,7 milhões de brasileiros (13,7%).
O primeiro óbito conhecido pelo novo coronavírus no país ocorreu no dia 17 de março. A partir daí, o país promoveu o fechamento de bares, restaurantes e comércio como forma de combater a pandemia. Em abril, os efeitos econômicos começaram a ser sentidos com mais intensidade, já que as medidas restritivas duraram do começo ao fim do mês. O impacto continuou em maio, sofrendo efeitos no mercado de trabalho.
Na última terça (30), a Pnad Contínua mostrou que a pandemia da Covid-19 destruiu 7,8 milhões de postos de trabalho no Brasil no trimestre encerrado em maio. Isso fez com que a população ocupada tivesse caído 8,3% na comparação com o trimestre encerrado em fevereiro, indo para 85,9 milhões de pessoas.
No mês passado, o IBGE divulgou a primeira pesquisa mensal da Pnad Covid-19, com os resultados consolidados de maio. O estudo apontou que os brasileiros mais afetados pela doença são os pretos, pardos, pobres e sem estudo.
Além de relatarem incidência maior dos sintomas do novo coronavírus, pessoas desses grupos também sentiram de maneira mais forte os impactos econômicos provocados pela pandemia.