Segundo dados da Rede Pensann (Rede Nacional de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) divulgados nesta segunda-feira (26), mais da metade da população brasileira apresentou algum grau de insegurança alimentar no país entre 2021 e 2022.
São 125,2 milhões de brasileiros que apresentam algum grau de insegurança alimentar, sem ter a certeza de que teriam algo para comer em todas as refeições.
Desse número, 33,1 milhões de brasileiros – representando 15,5% dos lares do país – chegam a passar fome, sem ter acesso a alimentação básica com facilidade. Comparado ao primeiro inquérito que mapeou a fome nos lares brasileiros, publicados em 2021, 14 milhões brasileiros entraram no registro entre 2020 e 2022.
Esses dados refletem a realidade de 3 em cada 10 famílias em todo o país, que relataram incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e preocupação em relação à qualidade da alimentação no futuro imediato.
Na região Sudeste, esse número se mantém na mesma quantidade que o âmbito nacional – 3 em cada 10 famílias relataram redução parcial ou severa no consumo de alimentos, representando 27,4% desta população.
As formas mais severas de insegurança alimentar (moderada ou grave) atingem fatias maiores da população nas regiões norte (45,2%) e nordeste (38,4%).
A rede mapeia os dados entre segurança alimentar, aqueles que não passam fome; a insegurança alimentar leve, quando a pessoa tem a incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo e/ou quando a qualidade da alimentação já está comprometida; moderada, com a quantidade insuficiente de alimentos; e a grave, quando o indivíduo é privado de alimentos e passa fome.
A falta de acesso a alimentação adequada trouxe de volta o país a uma situação de regresso ao mapa da fome – tendo o pior índice desde 2004, quando o país conseguiu sair do índice da ONU (Organização das Nações Unidas).
A pesquisa registrou dados de 12.745 domicílios, de 577 municípios distribuídos em todos os 26 estados da Federação e do Distrito Federal. Foram obtidas informações de 35.022 domicílios, com a margem de erro de 0,9 pontos percentuais.
Corte de raça e gênero
Segundo o inquérito, de 2004 a 2013, o país conseguiu erradicar a questão da pobreza alimentar de 9,5% para 4,2% dos lares brasileiros. Hoje, esse número abrange 15,5% das casas brasileiras
Mas, a fome também afeta na questão de raça e gênero, a análise dos dados mostra que 6 de cada 10 domicílios cujos responsáveis se identificavam como pretos ou pardos viviam em algum grau de insegurança alimentar, enquanto nos domicílios cujos responsáveis são pessoas brancas, mais de 50,0% tinham segurança alimentar garantida.
A fome também foi mais frequente em lares chefiados por pessoas pretas, com 20,6%, seguidas de pardos, com 17% e brancos com 10,6%.
Na questão de gênero, as mulheres também são as que passam mais fome. Segundo apresentado, 6 de cada 10 lares comandados por mulheres convivem com a insegurança alimentar.
Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%. Segundo a Rede Pensann, isso ocorre por questão de outros fatores, como a desigualdade salarial entre os gêneros.
Para a rede que realiza a pesquisa, a destruição de políticas públicas e a desativação de projetos sociais voltados a questão da alimentação “estão na raiz do problema deixando grande parte da sociedade desprotegida diante dos efeitos da crise sanitária que agravou a crise econômica que a antecedeu”.
É possível conferir a pesquisa completa na íntegra pelo site www.olheparaafome.com.br