segunda-feira, 25 novembro 2024

Um ano depois, óleo deixa dano ambiental

Na faixa de areia entre o mar e o rio Itapicuru no povoado de Poças, em Conde (181 km de Salvador), a marisqueira Maria Raimunda Alves, 47, propõe o desafio: “Tire o sapato e caminhe na beira da praia por um tempo. Duvido que você não volte com óleo nos pés”. 

As primeiras manchas de óleo haviam chegado na região dez meses antes. Mas permaneciam como um desafio para as cerca de 1.200 famílias que vivem do pescado e do marisco na cidade. 

Um ano depois do início do maior desastre ambiental do litoral brasileiro, o impacto das manchas de óleo nas praias dos estados do Nordeste, Espírito Santo e Rio de Janeiro se traduz em um rastro de danos ambientais, além de prejuízos para o turismo e pesca. 

O crime ambiental de proporções inéditas no Brasil segue sem responsável. A primeira fase da investigação conduzida pela Marinha, encaminhada na segunda-feira (24) à Polícia Federal, apontou que o óleo foi derramado a cerca de 700 km da costa e levou 40 dias para chegar ao litoral. A investigação, contudo, não conseguiu identificar os causadores do desastre. 

As primeiras manchas de petróleo foram registradas no dia 30 de agosto de 2019, na Paraíba. Desde então, foram recolhidas 5,3 mil toneladas de óleo em 1.013 localidades de 11 estados brasileiros, boa parte do trabalho feita por grupos de voluntários. 

O Plano de Contingência foi acionado pelo governo federal 43 dias depois do início da chegada das manchas à costa. A partir daí, a retirada do óleo começou a ser feita de forma coordenada por Forças Armadas e Petrobras, além de órgãos ambientais federais, estaduais e municipais. 

“O Plano de Contingência não só demorou a ser acionado como foi acionado apenas parcialmente. O trabalho foi feito de forma assustadoramente precária e improvisada”, afirma o senador Jean Paul Prates (PT-RN), relator da comissão o Senado que acompanhou as ações de enfrentamento ao óleo. 

SEM FIM 

Um ano depois, o óleo segue chegando ao litoral em pequenas quantidades com a movimentação das marés e correntes marítimas. E deixou um rescaldo de prejuízos para as comunidades tradicionais que vivem do mar. 

A clima nas comunidades é de desamparo, conforme relatos de pescadores e marisqueiras em pesquisa conduzida pelo professor Miguel Accioly, do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia). 

“Esperava-se algum suporte às comunidades, mas ele não veio. Ainda há muita insegurança em relação a qualidade do pescado”, afirma. 

Levantamento do Comitê SOS Mar, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), aponta que 350 mil trabalhadores ligados à atividade pesqueira foram atingidos pelo desastre ambiental. 

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