sexta-feira, 26 abril 2024

O ‘descanso’ no treinamento esportivo de alto rendimento

A notícia da necessidade de isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus caiu como uma bomba no universo do esporte de alto rendimento. Os atletas viram na pausa nos treinamentos e competições um ano a menos na carreira esportiva. Afinal, sem treinar e competir, como se manter no topo? 

A crença de quanto mais melhor sempre foi absoluta entre técnicos e atletas. Altas cargas de treino significavam melhores performances. Por isso, o adiamento das grandes competições e a realocação do treino para o espaço de casa, com cargas bem menos elevadas, trouxeram desânimo e desespero para aqueles que almejavam recordes e medalhas. 

No entanto, a volta das competições, aos poucos, a partir do mês de agosto, trouxe surpresas. Contrariando os prognósticos, alguns atletas mostraram que o período de “descanso” durante o auge da pandemia pode ter sido benéfico. É o caso do ugandês Joshua Chepteguei que, em seu retorno a competições de atletismo, quebrou o recorde mundial da prova dos 5.000 metros. 

Na natação, houve quebra de recordes nacionais em nove países nos últimos dois meses e o italiano Gregorio Paltrinieri simplesmente destruiu o recorde da prova dos 1.500 metros nado livre, fazendo a segunda melhor marca de toda a história da prova. Assim como o americano Ryan Crouser, que no seu primeiro arremesso de peso em competição após o isolamento atingiu a distância de 22,91 metros, a quarta melhor da história mundial desta prova. 

Especialistas parecem agora começar a considerar que a pausa pode ser necessária, principalmente para atletas que costumam competir meses seguidos com o desgaste das longas viagens. Os resultados obtidos na pós-pandemia vêm ao encontro de uma teoria já defendida e aplicada por muitos treinadores: o período de polimento – tipo específico de treino que precede as competições importantes. 

A carga de um treinamento pode ser definida como a combinação de três variáveis principais: intensidade, volume e frequência. Assim, no período de polimento, os profissionais precisam adequar estas variáveis a fim de reduzir os níveis de fadiga física e emocional de seus atletas. Estudos demonstram que reduções de intensidade ou frequência de treinamento no período de polimento não trazem melhoras de performances nas competições. 

O ajuste da carga de treinamento no período de polimento deve ser feito pela variável volume. A redução de 41% a 60% do volume de treino aplicado no pré-polimento traz resultados significativos na performance competitiva. Enquanto os atletas pensavam estar perdendo seu ano competitivo com treinos menos volumosos e adaptados durante o isolamento, na verdade estavam vivenciando um período de polimento. 

Os resultados pós-pandemia provam que talvez seja o momento para técnicos e atletas repensarem suas rotinas e incluírem mais uma variável nos treinamentos: o merecido descanso. 

 

Escrito por: Fernanda L. de Souza |  Especialista em Fisiologia do exercício  

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