O governo do Estado anunciou ontem um ajuste no horário do comércio dentro da fase amarela, passando de dez para 12 horas diárias, com a limitação de 40% de ocupação da capacidade dos estabelecimentos. A medida passa a valer hoje. Em Americana, a limitação do horário chegou a ser alvo de ação judicial.
Com a alteração no decreto, o comércio de rua na região passa a funcionar 12 horas diárias, de segunda a sexta-feira, com variações aos finais de semana. Esse era o horário que vinha sendo praticado em Americana após a prefeitura contrariar o Estado, cujo decreto de fase amarela, até então, estipulava limite de dez horas diária.
Na quarta, o Ministério Público moveu ação para que a Justiça determinasse que o município cumprisse o decreto do Estado e liberasse o comércio somente por dez horas por dia. A Justiça concedeu a liminar no mesmo dia e chegou a falar em “disputa infantil de egos e de poder” e em “decisões populistas”.
Apesar de seguir a decisão e reduzir o horário do comércio na quinta e na sexta, a Prefeitura de Americana se manteve firme em seu argumento de que o horário expandido diminui a possibilidade de aglomeração do público nos corredores comerciais e no transporte. A Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana), também.
Ontem, após o anúncio do Estado, a Prefeitura de Americana emitiu nota lamentando que o caso tenha sido levado à Justiça.
“É para se comemorar que os técnicos do Estado chegaram à mesma conclusão que os nossos. A única nota para se lamentar é que, sem respeitar o prazo que ainda tínhamos, foi tomada pelo MP uma decisão equivocada de acionar a Justiça, acusando a Administração de se utilizar da Covid-19 para um embate político-partidário motivado por vaidades. Essa nunca foi a motivação desta Administração durante a pandemia, assim como não será até o fim”, diz a nota.
EXPANSÃO
Ao divulgar a expansão do horário do comércio, mas mantendo o limite de 40% de ocupação dos estabelecimentos, a secretária de Desenvolvimento do Estado, Patrícia Ellen, praticamente referendou o argumento americanense ao dizer que o objetivo de mudança é reduzir a aglomeração de pessoas nos corredores comerciais durante as compras de fim de ano.
“Foi uma discussão técnica entre Saúde e comércio para que possamos atender à necessidade de maior espaçamento entre as pessoas, evitar aglomerações para que todos possam ter sua necessidade agora do fim do ano atendidas, mas com responsabilidade, com segurança”, afirmou.
A secretária reforçou, na coletiva, que os comerciantes sigam à risca os protocolos de higiene, como disponibilização de álcool em gel, medição de temperatura dos clientes na entrada, exigência do uso de máscaras, entre outros.
“Reforço o pedido para quem não está cumprindo os protocolos, porque o descumprimento de poucos coloca em risco o trabalho e o esforço que muitos estão fazendo nesse momento. Sabemos que o comércio precisa desse impulso de fim de ano, mas isso só será possível com muita responsabilidade”, disse Ellen.
Bares mudam e preveem ‘quebradeira’
Além de expandir o horário do comércio em duas horas, o Estado anunciou ontem mudanças em relação aos horários de bares e restaurantes. Os bares só poderão funcionar até as 20h, enquanto restaurantes podem funcionar até as 22h, mas sem vender bebidas alcoólicas após as 20h.
Em nota, a Abrasel RMC (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da Região Metropolitana de Campinas) disse que a medida irá “quebrar o setor”. A medida deve durar por 30 dias corridos a partir de hoje.
O anúncio foi feito após o Estado admitir o aumento no número de casos e internações em todas as regiões. Segundo o secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, o objetivo é prevenir a disparada da doença na chamada “segunda onda”.
“O que é importante é que nós tivemos alta de ocupação de leitos, mas está muito distante do pico no início da pandemia. Nós não estamos aguardando índices alarmantes para tomar estratégias, estamos agindo agora de forma preventiva”, afirmou o secretário.
Para os donos de bares e restaurantes, porém, a medida não faz sentido, já que o horário do comércio foi expandido para evitar aglomerações, e irão “agravar ainda mais os problemas financeiros do setor de alimentação fora do lar, como bares e restaurantes, provocando demissões em massa e o encerramento de milhares de negócios”.
O presidente da Abrasel RMC, Matheus Mason, disse que o departamento jurídico da entidade já foi acionado para judicializar a situação. “Qual a lógica de uma pessoa estar dentro de bares e restaurantes, tomando uma bebida, e ter de parar de consumir às 20h?”, questionou, sugerindo que a ação do Estado deveria ser o contrário: aumentar o horário de atendimento para diminuir o número de pessoas simultaneamente nos estabelecimentos.
Em apenas 11 dias, Americana já soma mais 500 infectados
Em apenas 11 dias, dezembro já ultrapassa a marca de 500 novos infectados e oito óbitos por coronavírus em Americana, uma media de mais de 46 casos por dia.
Em novembro, Americana vinha apresentando queda de casos, começando inclusive, em 29 de outubro, a divulgar o boletim semanalmente, às quintas-feiras. Eram, à época, 6.165 casos, com 169 óbitos.
Na primeira quinta de novembro, dia 5, eram 6.235 casos, com os mesmos 169 óbitos. Ou seja, em uma semana foram apenas 70 novos casos.
Os casos voltaram a aumentar no fim de novembro. No último dia 24, foram registrados quatro óbitos e 71 casos em apenas um dia, um aumento significativo. Com isso, o boletim voltou a ser divulgado diariamente pela prefeitura.
No dia 30 de novembro, eram 6.732 casos, com 179 óbitos. Ou seja, de 29 de outubro até lá, em 33 dias, foram pouco mais de 500 casos e dez óbitos. Em um terço deste tempo, os 11 dias deste mês, Americana já ultrapassou os 500 infectados e só registrou duas mortes a menos.
Ontem, além de duas mortes, foram mais 78 casos, totalizando 7.245, com 187 óbitos. Na quinta (10) foram 32 casos, totalizando 7.166 infectados, sendo 185 óbitos. Na quarta (9) foram outros 24. Terça (8), foram registrados 88 novos casos.
Na segunda (7) foram mais 63 resultados positivos, ultrapassando os 7 mil infectados, e dois óbitos. Dia 4 foram 71 casos e uma morte. No dia 3 outros 36 casos. No dia 2 foram 40 casos e dois óbitos, e no dia anterior, 75 novos casos.
Dezembro também começou com o aumento de internações em Americana por coronavírus. A ocupação de leitos sem respiradores no HM (Hospital Municipal) atingiu 89% (com 16 dos 18 leitos ocupados) na quarta-feira (9) e nesta quinta (10) chegou à ocupação total dos 18 leitos. Ontem, este número caiu para 72% (13 de 18 leitos ocupados). | PEDRO HEIDERICH