Um prédio residencial desabou por volta das 10h30 desta terça-feira (15), em Fortaleza. O edifício, de sete andares, fica na esquina entre as ruas Tibúrcio Cavalcanti e Tomás Acioli, no bairro Dionísio Torres, zona nobre da capital cearense.
Eduardo Holanda, comandante do Corpo de Bombeiros do Ceará, disse que não há mortos até o momento, ao contrário do que a própria corporação e o governo do estado haviam informado anteriormente. Segundo Holanda, nove pessoas foram resgatadas com vida e outras nove estão desaparecidas, com base em relato de familiares.
“Vamos continuar trabalhando até que todos sejam encontrados. Estamos trabalhando num primeiro momento manualmente, procurando pelas frestas e tentando contato com as vítimas. Maquinário pesado só entra depois das primeiras 24 horas”, disse Holanda.
Ainda segundo ele, não há crianças entre os resgatados e entre os reclamados. Ao menos um cachorro também foi resgatado. Holofotes chegaram ao local para que as buscas continuem durante a noite desta terça-feira (15). Um estabelecimento comercial ao lado foi atingido pelos escombros, além de carros e um caminhão que estavam na rua – um homem que ficou preso no mercadinho atingido foi resgatado e encaminhado a um hospital.
No local do desabamento, Glaucio Sampaio, tio de um dos resgatados com vida, disse que os moradores reclamavam das condições do edifício.”O pessoal reclamava que estava tudo corroído no prédio, que poderia acontecer algo. Graças a Deus meu sobrinho saiu com vida”, afirmou. David Sampaio Martins, seu sobrinho sobrevivente, foi resgatado e encaminhado ao hospital.
As ruas no entorno foram bloqueadas pela polícia. O Corpo de Bombeiros pediu para que vizinhos deixassem seus imóveis, devido aos riscos de explosão por conta de vazamento de gás e de choque dos fios de energia elétrica. Os familiares estão sendo levados para uma casa próxima quando chegam ao local do desabamento. Todos estão concentrados no imóvel à espera de informações, com acompanhamento de psicólogos.
Helicópteros foram levados para a região para deslocamento mais rápido de outros moradores feridos, assim como ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Ainda não há informação do que pode ter causado a queda do prédio, que fica a três quilômetros da praia de Iracema, um dos tradicionais pontos turísticos da capital cearense.
O governador Camilo Santana (PT) lamentou a tragédia e disse por meio das redes sociais que colocou toda a força operacional do estado no socorro às vítimas. O petista, que estava chegando a Brasília para cumprir agendas, cancelou os encontros e voltará para Fortaleza para acompanhar o resgate. “Além das ações efetivas das nossas forças de segurança, façamos uma corrente de oração para que as vidas sejam salvas”, escreveu.
PRÉDIO DA DÉCADA DE 90
A construção do edifício que desabou é dos anos 1990, segundo a Prefeitura de Fortaleza. O prefeito Roberto Cláudio (PDT) disse que irá pedir uma investigação rígida das causas e acompanhará o caso pessoalmente. “A única informação que temos até o momento é que era um prédio antigo, mas não temos nenhuma informação específica a respeito de licença, de alvará, de habite-se. Tudo ainda na fase da especulação. Isso é outra fase, agora é concentração de esforços para resgatar as vítimas que ainda se encontram nos escombros”, afirmou.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra que os pilares do edifício estavam deteriorados. Presidente do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará, o engenheiro civil Emanuel Maia Mota disse nesta terça que existe uma ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) com data desta segunda-feira (14) relatando a execução de recuperação da construção e pintura no imóvel.
“O documento foi feito de forma simples, sem maiores detalhes”, disse Mota. ART é um documento que caracteriza direitos e obrigações entre profissionais da área e contratantes. O engenheiro responsável, que não teve o nome revelado, será chamado para dar informações sobre o edifício. Uma eventual punição pode chegar à suspensão do registro profissional.
Ainda de acordo com o presidente, o prédio era velho e necessitava de reformas. Ao contrário do informado pela prefeitura, Mota afirmou que o edifício foi construído há mais de 40 anos. Ele não soube dizer se o local já estava em obras.
“Ele [engenheiro] não dá maiores detalhes, se começou a obra, quando começou, se não começou. Enfim, não temos como dimensionar o que se passou ali.” Não há um registro de projeto, apenas a execução do serviço, ainda conforme o presidente do Crea. Mota disse também que os vídeos que circulam em redes sociais mostram “grave desgaste da estrutura”.”Fortaleza tem atmosfera agressiva devido à salinidade do mar. Qualquer fissura agrava ainda mais o potencial de risco das edificações.”
No início de junho, um prédio no bairro Maraponga teve desabamento parcial, depois da queda das colunas de sustentação -o que levou a retirada de moradores do local e a evacuação de casas vizinhas. A Polícia Civil do Ceará indiciou os proprietários do local pelos crimes de desabamento e dano qualificado, duas semanas atrás.
“Tudo agora é especulação, não temos nenhuma informação a dar. São imóveis ambos privados, no caso da Maraponga havia uma responsabilidade direta do proprietário que construiu sem licença, sem alvará, cometeu irregularidades que foram identificadas. A gente conseguiu identificar a responsabilidade. Seria agora pouco razoável, precoce e até irresponsável a gente sinalizar cenários de especulação”, disse o prefeito.
O resgate é feito por homens da defesa civil e dos bombeiros. A todo momento eles gritam pedindo para que, dos escombros, pessoas debaixo gritem caso estejam ouvindo. Ao redor dos escombros é pedido silêncio a todo momento para tentar ouvir as vítimas. Cães farejadores também ajudam na busca e enfermeiros voluntários se apresentaram no local. Comércio local também ajuda enviando mantimentos, como água, para as pessoas que estão ajudando nas buscas.