O deputado britânico Boris Johnson, 55, é o novo líder do Partido Conservador e deverá se tornar primeiro-ministro do Reino Unido nesta quarta (24), substituindo sua correligionária Theresa May. O resultado da eleição interna (restrita a membros da legenda) foi anunciado na manhã desta terça (23).
Ex-ministro das Relações Exteriores e ex-prefeito de Londres (2008-16), Johnson derrotou o atual chanceler, Jeremy Hunt, na etapa final da disputa por 66% a 34% dos votos. No começo da corrida, em junho, havia dez candidatos, mas o eventual vencedor nunca foi ameaçado. Segundo o protocolo, May deve ter uma audiência com a rainha Elizabeth 2ª na tarde de quarta para entregar seu cargo e recomendar Johnson como sucessor.
Conhecido pelo estilo (para alguns demasiado) informal, pelas gafes e por projetos frívolos e onerosos (dos quais o skyline de Londres está cheio), o deputado ascende à chefia de governo com a promessa de solucionar a maior crise da política britânica em décadas: como levar a cabo o brexit, a saída da União Europeia, decidida em plebiscito há mais de três anos.
Durante a campanha, ele garantiu que, uma vez eleito, tiraria Londres do bloco em 31 de outubro (já a terceira data-limite para a separação, após dois adiamentos) acontecesse o que fosse. Isso quer dizer que o novo líder não descarta o chamado “brexit duro”, sem um acordo com a UE que prevê, entre outras coisas, uma fase de transição para que os dois lados se acostumem com o novo status da relação.
Em pronunciamento curto após a divulgação do resultado da eleição, mais uma vez prometeu finalizar o adeus à EU até 31 de outubro e “reenergizar o país” com uma abordagem otimista para problemas. “Como um gigante adormecido, vamos despertar e nos livrar das amarras da falta de autoconfiança e do pessimismo com educação melhor, infraestrutura melhor, mais polícia e internet de banda larga por fibra óptica em cada casa”, disse. “Vamos unir este país fantástico e fazê-lo avançar.”
Ele falou ainda na importância de reconciliar dois instintos conflitantes: o anseio por cooperação internacional e livre-comércio e o desejo de autonomia dos governos nacionais. Nos últimos dias, Johnson recebeu sinais de que enfrentará oposição, inclusive de alas moderadas de seu partido, se optar pela via da ruptura. O Parlamento manobrou para dificultar a suspensão temporária de suas atividades pelo Executivo (o que é permitido).
O temor é o de que ele use um recesso para passar por cima dos deputados e impor uma saída não negociada. O Legislativo rejeitou três vezes o acordo proposta por May e, quando instado a propor solução alternativa, não chegou a qualquer consenso. Mas se há um entendimento consolidado na Câmara, é o de que a despedida britânica da EU não deve ser abrupta.
Em paralelo, vários ministros do governo May anunciaram que deixariam seus postos caso a vitória do ex-chanceler se confirmasse, entre eles Philip Hammond, o titular das Finanças, e David Gauke, o da Justiça. No setor dos chamados “brexiteers”, que defendem um divórcio sem concessões à Europa, também há expectativa em relação à concretização do discurso linha-dura do ex-chanceler.
Tanto críticos como apoiadores aguardam as primeiras nomeações ministeriais de Johnson e seu discurso inaugural para definir seus próximos passos, mas ele deve gozar de toda forma de uma espécie de “salvo-conduto” até o começo de setembro, quando o Parlamento volta de seu recesso de verão.
O novo líder talvez também queira analisar com atenção o relatório divulgado no último dia 18 pelo Escritório de Responsabilidade Orçamentária do Reino Unido, que prevê uma recessão em 2020, em caso de “no deal” (saída sem acordo). Segundo o órgão, nesse cenário, o PIB britânico cairia 2,1% e o valor da libra sofreria depreciação de 10%.
De seu lado, a União Europeia estaria pronta para oferecer ao chefe de governo uma “extensão técnica” do prazo-limite para o brexit, a fim de que ele tenha tempo de buscar uma modalidade que agrade ao Parlamento. Mas o adiamento também poderia ser vendido em casa como período extra de preparação para uma separação sem pacto.
Após o anúncio desta terça, o chefe das negociações do brexit pelo lado europeu, Michel Barnier, escreveu em uma rede social que espera trabalhar com o novo líder para agilizar a ratificação do acordo pelo Parlamento britânico. “Estamos prontos para alterar a declaração que delineia a nova parceria [entre europeus e britânicos]”, afirmou, referindo-se à carta de intenções que acompanha o texto principal, este sim na raiz da cizânia atual -mas intocável, segundo a UE.
Afora o brexit, que sugou a vida política nacional nos últimos três anos, Johnson terá que encontrar uma saída rápida para a escalada da crise com o Irã, que apreendeu um cargueiro de bandeira britânica na semana passada no estreito de Hormuz, em retaliação pelo confisco de uma embarcação de Teerã, no começo de julho. O pano de fundo aqui é a saída dos EUA, sob Donald Trump, do acordo para o controle da produção de energia nuclear pelo Irã. Desde o ano passado, Reino Unido, França e Alemanha tentam salvar o pacto.
Nesta terça, o presidente americano parabenizou Johnson pela vitória e escreveu na internet que ele será ótimo como primeiro-ministro. Em mensagem nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou Johnson pela indicação e disse que ele foi eleito com o compromisso de “respeitar os desígnios do povo britânico”. “Conte com o Brasil na busca por livre comércio, na promoção da prosperidade para nossos povos, e na defesa da liberdade e da democracia”, disse