quarta-feira, 15 janeiro 2025

Brasil pode evitar virar nova Rússia, diz prêmio Nobel

Ativista da organização russa Memorial alerta para paralelos entre Putin e Bolsonaro 

Conhecida por expor abusos cometidos na era stalinista, a ONG russa Memorial recebeu a notícia de que ganhou o prêmio Nobel da Paz nesta sexta (7) com certa ambivalência.

Parte da organização sente que não conseguiu impedir a maior catástrofe de todas, a Guerra da Ucrânia, conta a advogada Natália Sekretareva, 30, que chefia a área jurídica do ramo da ONG dedicado à defesa dos direitos humanos. Ao mesmo tempo, o prêmio tem uma importância simbólica em termos de visibilidade, já que, segundo ela, a luta pela causa é, muitas vezes, silenciosa.

Sekretareva ainda traça um paralelo entre a Rússia cada vez mais autoritária de hoje e o Brasil, prestes a eleger seu próximo presidente.

“Direitos são facilmente retirados, mas não [facilmente] concedidos”, diz ela. “[Jair] Bolsonaro é feito do mesmo material que Putin ou [do ditador belarusso Aleksandr] Lukachenko. A sociedade russa foi ensinada a se esquivar da política, correr para a esfera privada. Mas os brasileiros ainda podem evitar que o país não se torne uma Rússia número dois na América do Sul”, disse.

A entidade foi fechada em 2021 por uma decisão da Suprema Corte da Rússia, após anos sendo perseguida pelo governo de Vladimir Putin – ainda que o Judiciário russo seja nominalmente independente, na prática ele é alinhado ao Kremlin.

Um novo movimento com o mesmo nome foi então criado em junho, mas sem um registro formal de ONG, um recurso para tentar escapar da perseguição. Uma das bases do argumento usado pela procuradoria ao pedir a dissolução do Memorial era de que o grupo infringia sistematicamente as obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”, rótulo atribuído a organizações que recebem financiamento do exterior e se engajam em atividades consideradas políticas.

Sekretareva diz que a nova Memorial reúne algumas dezenas de membros, sendo que o conselho principal, responsável pela tomada de decisões e o qual ela integra, é formado por nove pessoas. Muitos dos ativistas continuam na Rússia, anonimamente. 

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