sábado, 23 novembro 2024

Celulares de Macron e de rei do Marrocos foram alvo de espionagem, diz imprensa

Macron teria sido alvo de uma ação a pedido do governo do Marrocos, de acordo com o Le Monde. Um dos números de telefone que o líder francês usa desde 2017 está na lista de possíveis alvos de espionagem 

Além de Macron, outros 15 ministros franceses foram citados nessa lista ( Foto: Fórum Econômico Mundial / Pascal Bitz)

O presidente francês Emmanuel Macron, o rei do Marrocos, Mohammed 6º e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, estão entre os possíveis alvos de uso do software Pegasus, capaz de hackear celulares para obter acesso a dados sensíveis, como mensagens de texto, fotos e gravações, segundo notícias divulgadas pelos jornais Guardian e Le Monde nesta terça (20).

Macron teria sido alvo de uma ação a pedido do governo do Marrocos, de acordo com o Le Monde. Um dos números de telefone que o líder francês usa desde 2017 está na lista de possíveis alvos de espionagem. Além de Macron, outros 15 ministros franceses foram citados nessa lista.

O Le Monde não teve acesso ao celular de Macron para poder confirmar se houve invasão, mas checou outros telefones, como o do ex-ministro do Ambiente François de Rugy, nos quais encontrou registros de espionagem.

A denúncia de que governos usaram o Pegasus para investigar opositores, jornalistas e outras autoridades foi revelada no domingo (18). Diversos veículos de imprensa tiveram acesso a uma lista com mais de 50 mil números de telefones que teriam sido usados como alvo para o programa, desenvolvido pela empresa NSO Group, com sede em Israel. A companhia é investigada pelo FBI, a polícia federal americana, pelo menos desde 2017, sob suspeita de roubo de dados.

O Pegasus é um malware -programa criado para infectar computadores ou outros dispositivos- capaz de acessar smartphones sem que o usuário do aparelho precise clicar em links maliciosos ou tenha comportamento descuidado na internet.

Assim, o operador do Pegasus consegue extrair conteúdo sigiloso, como mensagens -mesmo as criptografadas-, fotos e trocas de emails, além de acionar, remota e secretamente, câmeras e microfones.

Também estavam na lista de alvos o rei Mohammed 6º, sua esposa Salma Bennani e Moulay Hicham, um dos primos do rei que é conhecido como o “príncipe vermelho”, por sua posição crítica sobre a monarquia e a favor da democracia.

A relação de espionados inclui, ainda, Imran Khan, premiê do Paquistão, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu e ex-premiê da Bélgica, e Tedros Ghebreyesus, atual diretor-geral da OMS e ex-chanceler da Etiópia.

O ex-presidente mexicano Felipe Calderón teria sido vigiado em 2016 e 2017, quando sua mulher, Margarita Zavala, disputou a Presidência. Pessoas próximas ao atual mandatário, Andrés Manuel López Obrador, também teriam sido espionadas. Agências estatais do México fizeram contratos com a NSO a partir de 2011, e há suspeitas de que autoridades locais possam ter usado as ferramentas para interesses pessoais.

A NSO disse que Macron, o rei Mohammed 6º e Ghebreyesus, não foram alvo de seus programas, e que a presença de qualquer número na lista divulgada não indica que seu dono foi espionado.

Shalev Hulio, fundador da NSO, disse em entrevista nesta terça (20) que os nomes de alvos citados pela imprensa não têm relação com a empresa, e que os serviços dela visam prevenir ataques terroristas e salvar vidas. Hulio disse que a NSO, em 11 anos de atuação, já trabalhou com 45 países, e rejeitou pedidos de outros 90, sem detalhar quais. E que a empresa pretende abrir processos judiciais por difamação.

Segundo o consórcio de imprensa, os dados apurados não permitem afirmar quem são exatamente os clientes da NSO, mas a investigação aponta que a participação dos governos de ao menos dez países: Arábia Saudita, Azerbaijão, Bahrein, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos, Hungria, Índia, Marrocos, México e Ruanda.

O programa esteve no centro de uma crise entre militares brasileiros e Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). De acordo com reportagem publicada pelo UOL, em maio, o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria tentado articular a compra do Pegasus sem que órgãos com prerrogativa para utilizar ferramentas desse tipo, como o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), estivessem envolvidos na negociação –o que excede os limites da atuação de Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro.

LISTA DE ALVOS

Políticos e ativistas

Emmanuel Macron, presidente da França

Mohammed 6º, rei do Marrocos

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS

Imran Khan, premiê do Paquistão

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu

Saad Hariri, ex-premiê do Líbano

Felipe Calderón, ex-presidente do México

Rahul Gandhi, principal opositor do premiê indiano Narendra Modi

Carine Kanimba, filha do ativista Paul Rusesabagina, que inspirou o filme “Hotel Ruanda”

Jornalistas

Jamal Khashoggi, colunista saudita que foi assassinado

Cecilio Pinero Birto, repórter mexicano também assassinado

Roula Khalaf, editora-chefe do Financial Times

Khadija Ismayilova, jornalista investigativa do Azerbaijão 

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