Mesmo com o fim das medidas emergenciais adotadas pelo governo em 2020, como o auxílio emergencial e o programa de manutenção de empregos, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) espera que as empresas do setor continuem crescendo e contratando no ano que vem. Apesar disso, não vê motivo para grandes comemorações.
Robson Andrade, presidente da CNI, afirmou nesta quarta-feira (16) ao fazer uma espécie de balanço sobre o ano que os novos empregos vão ser observados principalmente na construção civil, impulsionados por investimentos no ramo imobiliário e em infraestrutura.
“Na indústria, vamos ter crescimento. Não é um crescimento que podemos comemorar muito, mas acreditamos que vamos crescer”, afirmou. A CNI projeta um crescimento de 4,4% para a atividade industrial em 2021 (em 2020, a previsão é de queda de 3,5%).
Andrade avalia que as incertezas com relação à economia continuam elevadas e só diminuirão com a imunização da maior parcela da população contra a Covid-19.
De qualquer forma, ele avalia que o cenário de contratações será observado mesmo em meio ao fim do auxílio emergencial. O término do programa deve elevar o nível de desemprego nas estatísticas, já que a taxa medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) considera na conta apenas quem está em busca de trabalho.
“Com o fim do auxílio, as pessoas vão retomar a busca por empregos e vai aumentar a taxa de desemprego. Mas o emprego na indústria vai continuar a crescer, principalmente em construção civil, no ramo imobiliário, no saneamento e em infraestrutura”, disse.
Andrade afirmou que o auxílio teve um papel importante durante a pandemia. Mas que, de agora em diante, as medidas a serem tomadas devem ser voltadas ao trabalho e ao investimento.
“O auxílio foi fundamental para a economia e para a população nesse período. Na nossa avaliação, o país não tem condições de continuar com o auxílio de R$ 600 como foi em um período”, afirmou. “Acredito que medidas que podem ser tomadas tanto na geração de empregos, nos investimentos, nas reformas, podem ter muito mais importância para a população”, disse.
O presidente da CNI considera que as medidas tomadas pelo governo não vieram tão rápido como seria o necessário, mas que dentro das possibilidades (inclusive legais). E mencionou programas como os de crédito e o de manutenção de emprego. “Tudo isso acabou dando resultado bastante positivo não só para a indústria, mas para o país todo”, afirmou.
Agora, ele diz acompanhar de perto a eleição para as presidências da Câmara e do Senado. “Isso dará uma sinalização [sobre os integrantes] das comissões e da prioridade da agenda legislativa para 2021”, afirmou.
“Isso é importante para termos certeza de que as pessoas adequadas serão escolhidas para esse Congresso, que foi reformista e aprovou inúmeras propostas de apoio ao desenvolvimentismo econômico e à sociedade brasileira”, disse.
O presidente da CNI ressaltou a necessidade de se avançar nas reformas estruturais, como a administrativa e as mudanças em marcos regulatórios setoriais. Para 2021, ele afirma que o principal interesse da indústria é a reforma tributária. Ele espera que haja aprovação tão logo se resolva o cenário eleitoral nas duas Casas.
A CNI apoia a PEC (proposta de emenda à Constituição) 45, elaborada pela Câmara dos Deputados, com algumas mudanças. “Entendemos que é a que mais se adequa ao país por taxar mais o consumo e não a produção. E evitaria muito a possibilidade de sonegação”, disse.
“Tem setores que acham que serão prejudicados, mas no final todos ganharão. Principalmente a população brasileira que hoje paga muitos impostos escondidos”, afirmou.
Andrade afirmou, no entanto, que a PEC 45 precisaria de ajustes. Um deles é reduzir o prazo de transição para o novo sistema, previsto para durar dez anos.
“O prazo de dez anos é muito longo. Imagine conviver durante esse período com dois sistemas? Vai levar a muitos contenciosos”, disse.
Perguntado sobre a condução da reforma tributária pelo ministro Paulo Guedes (Economia), Andrade evitou criticar o chefe da equipe econômica. Mas defendeu que a pasta faça uma proposta para englobar estados e municípios em sua reforma, considerando que os secretários de Fazenda estaduais já apresentaram uma proposta.
Até hoje, o governo só enviou ao Congresso uma proposta que junta PIS e Cofins na CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), deixando de fora os entes subnacionais por entender que esse formato seria mais simples do que negociar mudanças amplas com estados e municípios.