sexta-feira, 19 abril 2024

CPI vê elo de conselhos com Prevent e gabinete paralelo pelo ‘kit Covid’

Em depoimento, advogada de médicos diz que havia um “pacto” entre operadora e governo para evitar lockdown 

Na CPI | A advogada Bruna Morato disse que médicos foram coagidos pela Prevent (Foto: Roque de Sá / Agência Senado)

Senadores da CPI da Covid apontaram que o depoimento da advogada Bruna Morato, que representa médicos que denunciaram irregularidades da Prevent Senior, deixou clara a ligação da operadora com os Conselhos Federal e Regional de Medicina e com o gabinete paralelo na adoção do “kit Covid”, medicamentos sem eficácia contra a doença.

Os membros da comissão aprovaram nesta terça-feira (28) requerimento no qual pedem que as Procuradorias em São Paulo e no DF, além da Polícia Federal, investiguem possível omissão dos conselhos no caso Prevent. Esses conselhos já entraram no radar da CPI anteriormente por não tomar posição mais definitiva em relação ao tratamento precoce e por usar redes sociais para criticar o colegiado.

Morato, que diz representar 12 médicos da Prevent, afirmou à CPI nesta terça que seus clientes tinham medo de denunciar irregularidades na operadora, pois havia uma relação próxima forte entre a empresa e os conselhos de medicina. O grupo representado pela advogada elaborou um dossiê encaminhado à comissão com denúncias contra a empresa.

Morato também apontou que havia um “pacto” entre a operadora e o chamado gabinete paralelo, composto por médicos que aconselhavam o presidente Jair Bolsonaro e incentivavam o uso do “kit Covid”. Um dos objetivos deste alinhamento, segundo ela, seria a elaboração de uma estratégia para evitar o fechamento da economia durante a pandemia, usando o tratamento precoce como “esperança” para a população.

Em uma revelação que chamou a atenção dos senadores, a advogada mencionou que o gabinete paralelo atuava em consonância com o Ministério da Economia, que defendia a estratégia.

A Prevent Senior entrou no radar da CPI após o recebimento do dossiê dos médicos da Prevent, que relatou que hospitais da rede eram usados como “laboratórios” para estudos com medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19, como a hidroxicloroquina. Os familiares dos pacientes não seriam informados de que receberiam esses medicamentos. A advogada foi insistentemente questionada pelo governista Marcos Rogério (DEM-RO) sobre o nome dos 12 médicos que representa e que teriam feito as denúncias. No entanto, ela alegou sigilo profissional e se recusou a entregar as identidades.

Morato também foi questionada pelos senadores sobre por que os médicos não encaminharam as denúncias para os conselhos de medicina, para que as irregularidades fossem apuradas e, os responsáveis, punidos.

“Esses médicos recebiam a informação de que o Conselho Federal de Medicina e de que o Cremesp, de São Paulo, ou seja o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, teria relação com a empresa, de modo que eles tinham muito medo de levar essas denúncias ao Cremesp”, afirmou a advogada.

Morato indicou em seu depoimento uma forte ligação da operadora com o governo Bolsonaro, por meio do chamado gabinete paralelo. Segundo ela, a direção da Prevent Senior buscou se aproximar do Ministério da Saúde, após uma série de críticas do então ministro Luiz Henrique Mandetta. A tentativa se deu por um parente de Mandetta, mas a relação não avançou. Os diretores então ficaram sabendo de um grupo que assessorava o governo, em conexão com o Ministério da Economia. “O que eles me explicaram foi o seguinte: existe um interesse do Ministério da Economia para que o país não pare, e, se nós entrarmos nesse sistema de lockdown, nós teríamos um abalo econômico muito grande, e, então, existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo”, afirmou Morato.

“Eles desenvolveram uma estratégia. Qual era essa estratégia? Através do aconselhamento de médicos”, disse a advogada.

OUTRO LADO
A Prevent Senior negou em nota divulgada na tarde desta terça-feira as acusações feitas pela advogada Bruna Morato na CPI da Covid e acusa a defensora de tentar fechar acordo para não levar as denúncias à comissão.

“O mesmo teor dessas imputações havia sido trazido à empresa, antes da CPI, pela advogada Bruna Mendes dos Santos Morato, que tentou fechar um acordo para não levar o caso à comissão”, afirma a empresa na nota. A operadora diz que as acusações são “infundadas”, têm como base mensagens “truncadas ou editadas” vazadas à imprensa e serão desmontadas ao longo das investigações.

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