domingo, 24 novembro 2024

Diretor de imigração dos EUA culpa pai de foto símbolo da crise na fronteira por afogamento de filha

O diretor interino de Serviços de Imigração e Cidadania dos Estados Unidos, Ken Cuccinelli, culpou o salvadorenho Óscar Alberto Martínez pelo seu próprio afogamento e o de sua filha, Angie Valeria. A imagem dos dois de bruços nas margens do rio Grande gerou comoção nos últimos dias. Eles morreram no domingo (23) quando tentavam chegar aos EUA para pedir asilo.

“A razão pela qual temos tragédias como essa na fronteira é que esse pessoal, esse pai não quis esperar para passar pelo processo de asilo da forma legal, então ele decidiu atravessar o rio”, disse Cuccinelli à rede americana CNN. “E não só ele morreu, mas sua filha morreu tragicamente também.”  O diretor é conhecido por suas posições duras contra a imigração e assumiu o cargo interinamente no início deste mês.

As afirmações de Cuccinelli contradizem o relato dos familiares de Martínez. Sua mãe, Rosa Ramirez, afirmou que seu filho morreu enquanto tentava salvar a vida de Angie, que tinha apenas dois anos.  Tania Vanessa Ávalos, esposa de Martínez e mãe de Angie, disse ao jornal mexicano La Jornada que a família foi ficando cada vez mais desesperada. As temperaturas chegaram a 43°C no campo de imigrantes em Matamoros, no México, onde eles aguardavam para se apresentar a um ponto de controle de fronteira americano e pedir asilo, ela contou.

No fim de maio, mais de 2.000 imigrantes esperavam no local “em condições de fome e superlotação”, de acordo com o diário mexicano, para fazer a solicitação de asilo em pontos nos quais os agentes americanos concediam uma média de três atendimentos por semana.  Cuccinelli também culpou imigrantes por supostamente patrocinarem cartéis de drogas que usam “a fronteira como um pedágio”. Ele argumentou que são as trágicas leis de imigração americanas que atraem centroamericanos a fazerem viagens perigosas.

“Eles [migrantes] estão pagando para atravessar, então não vamos nos iludir sobre o quão perigoso é fazer essa viagem para qual as pessoas estão sendo atraídas pelas nossas leis atuais”, disse. “Esta tragédia somente acabará quando o Congresso consertar essas brechas legais.” Apesar da ofensiva do governo do presidente Donald Trump, a chegada de imigrantes sem documentos à fronteira sul dos Estados Unidos aumentou nos últimos meses. Apenas neste ano, a patrulha de fronteira deteve 664 mil pessoas, um aumento de 144% em relação a 2018, segundo Brian Hastings, chefe de operações da patrulha.

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