quinta-feira, 18 abril 2024

Ditadura da Nicarágua prende 5º candidato de oposição em 3 semanas

Segundo as autoridades policiais, Mora foi preso por “realizar atos que minavam a independência, a soberania e a autodeterminação do país”, além de “incitar interferência estrangeira em assuntos internos

De acordo com o governo, Miguel Mora foi detido em casa acusado de crimes contra a soberania nacional ( Foto: Reprodução/TV Cultura)

Em meio à perseguição política promovida pela ditadura de Daniel Ortega, a polícia da Nicarágua prendeu mais um pré-candidato à Presidência. O jornalista Miguel Mora, 57, foi detido na noite deste domingo (20).

Segundo as autoridades policiais, Mora foi preso por “realizar atos que minavam a independência, a soberania e a autodeterminação do país”, além de “incitar interferência estrangeira em assuntos internos”.

A detenção se deu sob a lei 1.055, sancionada em dezembro e apontada por órgãos internacionais como um mecanismo legal para barrar críticos e opositores de Ortega nas eleições presidenciais de 2021.

Pré-candidato pelo Partido Restauração Democrática (PRD), Mora é fundador e dono do canal de televisão 100% Noticias. Esta é a segunda vez que ele é preso pela ditadura do país. A primeira foi em dezembro de 2018, ao lado da também jornalista Lucía Pineda Ubau. Na ocasião, ambos foram acusados de “incitar o ódio”. Lucía afirmou ter passado por sessões de tortura psicológica em que foi interrogada mais de 30 vezes na tentativa de persuadi-la a gravar um vídeo pedindo desculpas ao líder do país.

Em razão do trabalho na mídia independente, os dois jornalistas receberam, em 2019, o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, organizado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

Mora é o quinto pré-candidato à Presidência detido sob o guarda-chuva da lei 1.055 nas últimas três semanas. A primeira a ser presa foi a jornalista Cristiana Chamorro, em 2 de junho, que agora segue em prisão domiciliar. Também foram detidos o ex-embaixador Arturo Cruz, o acadêmico Félix Maradiaga e o economista Juan Sebastián Chamorro, primo de Cristiana.

Além deles, vários outros líderes opositores foram presos poucos meses antes das eleições presidenciais, marcadas para 7 de novembro -Ortega tentará se reeleger pela terceira vez consecutiva.

Frente ao avanço da repressão, comunicado conjunto das representações diplomáticas de México e Argentina no país, divulgado nesta segunda (21), anunciou que os embaixadores vão retornar a seus países para avaliar a grave situação em curso no país centro-americano. O documento diz que as embaixadas seguem acompanhando a situação nicaraguense e “promovendo o pleno respeito à promoção dos direitos humanos, das liberdades civis, políticas e de expressão de todas as pessoas”.

O avanço do autoritarismo no país, acentuado desde 2018, é criticado por organizações internacionais, adversários de Ortega e mesmo ex-aliados do ditador. Líder da revolução sandinista, que em 1979 derrubou a autocracia de Anastasio Somoza no país, Ortega vem desmontando as instituições democráticas, cerceando a liberdade de imprensa e sufocando a oposição.

Em 2018, mais de 320 pessoas, a maioria dos quais manifestantes, morreram em protestos contra o governo. Também naquele ano, fechou-se o cerco a ambientalistas, alçando o país a um dos líderes em assassinatos de defensores do ambiente e da terra. 

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