quarta-feira, 24 abril 2024

Doria manda recolher material que cita identidade de gênero e fala em ‘apologia’

O governador João Doria (PSDB) mandou recolher das escolas estaduais um material didático que fala em identidade de gênero. A menção consta de apostila de ciências enviada aos alunos do 8º ano do ensino fundamental, que têm, em regra, de 13 a 14 anos.

Em publicação em rede social, Doria afirmou não tolerar a suposta propaganda de “ideologia de gênero”. A expressão, cunhada por religiosos, não é reconhecida no mundo acadêmico e normalmente é usada por grupos conservadores contrários às discussões sobre diversidade sexual e de identidade de gênero..

“Fomos alertados de um erro inaceitável no material escolar dos alunos do 8º ano da rede estadual”, escreveu o tucano. “Solicitei ao Secretário de Educação o imediato recolhimento do material e apuração dos responsáveis. Não concordamos e nem aceitamos apologia à ideologia de gênero.” O material explica os conceitos de sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual.

Em nota, a Secretaria da Educação afirma que o material tem “conteúdo impróprio para a respectiva idade e série e em desarranjo com as diretrizes desta gestão”. Isso porque, segundo a pasta, “o tema de ‘identidade de gênero’ está em desacordo com a Base Nacional Comum Curricular, aprovada em 2017 pelo Ministério da Educação e também com o Novo Currículo Paulista, aprovado em agosto de 2019. Assim, o assunto extrapola os dois documentos, que tratam do respeito às diferenças e à multiplicidade de visões da nossa sociedade.”

Como o jornal Folha de S.paulo revelou em 2017, as expressões “identidade de gênero” e “orientação sexual” chegaram a ser incluídas na base curricular, mas foram posteriormente retiradas do texto pelo governo Michel Temer (PMDB). Segundo a Secretaria da Educação, as apostilas recolhidas são elaboradas por servidores da rede estadual desde 2009 e servem de apoio ao currículo. Eles, por sua vez, “se utilizaram das fontes abertas que dispunham, no caso, de manual do Ministério da Saúde”.

A pasta afirma que não houve prejuízo “uma vez que trata-se da apostila complementar referente apenas ao 3º bimestre, além de se tratar de apostila consumível, ou seja, que já não seria reaproveitada por outros alunos”. A nota diz ainda que a secretaria irá “reestruturar todo o processo de produção das apostilas e já está contratando serviço de revisão externa para todos os materiais”.

BOLSONARO

A manifestação de Doria foi publicada em rede social 28 minutos antes de o presidente Jair Bolsonaro afirmar ter determinado ao Ministério da Educação que redija um projeto de lei para proibir a abordagem de questões de gênero nas escolas de ensino fundamental. Os dois devem ser adversários na eleição presidencial de 2022.

Recentemente, Bolsonaro tem feito diversas críticas ao governador tucano, que afirmou ter “mamado nas tetas do BNDES”, em referência à compra de jatinho a juros subsidiados do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Doria, por sua vez, tem procurado se distanciar do presidente após se aproximar da sua imagem na eleição de 2018, com o slogan Bolsodoria.

PONTOS DE DISTANCIAMENTO ENTRE DORIA E BOLSONARO

CORRUPÇÃO

Governador não mantém na equipe membros importantes com acusações de irregularidades, mesmo sem provas. Caíram assim Gilberto Kassab (Casa Civil), antes de assumir, e Aloysio Nunes (InvestSP). Enquanto isso, o ministro do Turismo, implicado no laranjal do PSL, segue no cargo

GP BRASIL

O presidente faz campanha aberta para tirar o GP Brasil de Fórmula-1 de São Paulo para o Rio, embora haja impedimentos técnicos. Doria rejeita a ideia e diz que vai brigar para que a prova siga em Interlagos

DITADURA

Bolsonaro sugeriu que o pai do presidente da OAB não desapareceu na ditadura, e sim foi morto por colegas de luta armada. Ele o fez sem provas e sofreu críticas. Já Doria reagiu e criticou o presidente, até porque teve o pai cassado pelo regime de 1964

MORO

Desde que Sergio Moro entrou na linha de tiro pelo caso The Intercept, Doria vem distribuindo afagos ao ex-juiz. Já Bolsonaro tem subido a temperatura da fritura do seu ministro, a ponto de aliados do governador defenderem convidá-lo para integrar seu governo.

NEPOTISMO

O tucano disse que não nomearia parente para cargo público, ao comentar a indicação de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, para ocupar a embaixada do Brasil em Washington

EXTREMISMO

Em entrevista na China, Doria defendeu a moderação e o centrismo na política como um desejo da sociedade, e disse esperar que Bolsonaro retomasse o caminho do diálogo após uma série de declarações e acenos à fatia mais radical de sua base eleitoral

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