segunda-feira, 6 maio 2024
ESPERANÇA

Droga usada contra leucemia é capaz de combater o parasita causador da doença de Chagas

Resultados foram apresentados por pesquisadores brasileiros em artigo publicado
Por
Isabela Braz
Imagem: Divulgação/CQMED

Em artigo conduzido por pesquisadores brasileiros publicado pela revista científica Journal of Biological Chemistry foi identificado que uma molécula – a mesma presente em droga usada no tratamento de leucemia – é capaz de inibir a proliferação do parasita causador da doença de Chagas, conhecido como Trypanosoma cruzi, transmitidos por insetos barbeiros ou bicudos.

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Centro de Química Medicinal da Universidade Estadual de Campinas (CQMED-Unicamp), em um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, a dificuldade de diagnóstico e de tratamento tornou a doença de Chagas uma das quatro maiores causas de mortes por doenças infecciosas e parasitárias no Brasil, com média de 4 mil casos por ano nos últimos dez anos.

A doença conta com 30 mil novos casos e aproximadamente 12 mil mortes por ano em todo o mundo.

Até o momento, existem apenas dois medicamentos disponíveis para o tratamento: o nifurtimox e o benzonidazol. De acordo com a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), cerca de 20% dos pacientes interrompem o tratamento por causa dos efeitos colaterais, que incluem intolerância gástrica, erupções cutâneas e problemas neuromusculares.

“As opções de tratamento ainda são muito tóxicas, ou seja, para atacar o parasita o medicamento acaba afetando outros processos do nosso corpo, gerando os indesejáveis efeitos colaterais”, explica Katlin Massirer, coordenadora do CQMED e autora do estudo. Uma das alternativas é encontrar medicamentos que atinjam apenas o foco da doença.

A coordenadora ressalta que a identificação de proteínas-alvo no parasita que sejam relevantes para o desenvolvimento de medicamentos ainda é um desafio de maneira geral. “Quando se consideram os protozoários parasitas, isso é particularmente difícil, uma vez que estes têm vias enzimáticas e metabólicas distintas”, explica Massirer.

Os grupos da Unifesp e Unicamp vêm estudando a enzima chamada TcK2, testando 379 moléculas inibidoras, tendo apenas como duas moléculas com potencial.

Entre elas, a molécula chamada dasatinib – já usado no tratamento de leucemias mieloides aguas e crônicas – teve um desempenho melhor na inibição da enzima, provocando a desaceleração da proliferação do parasita em células de cultura, no laboratório. “Dasatinib bloqueia a proliferação do parasita apenas em células que expressam TcK2, validando que esta enzima é o alvo do composto”, complementa Massirer.

Apesar de ter tipo bons resultados, a droga tem um custo elevado, chegando a R$ 15 mil por mês, um valor inacessível a grande parte da população, aquelas mais expostas a doença.

Os cientistas pretendem avançar no entendimento de como se dá a ligação entre o inibidor e a enzima para então estudar formas de tornar a molécula mais potente e específica. Podendo até mesmo reduzir as doses, os efeitos coletarais e as taxas de abandono do tratamento. O passo seguinte será testá-la em animais de laboratório.

O artigo “Identification of inhibitors for the transmembrane Trypanosoma cruzi eIF2α kinase relevant for parasite proliferation” pode ser lido em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0021925823018859?via%3Dihub.

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