quinta-feira, 17 julho 2025
DISPUTA COMERCIAL

Entenda o que pode ter motivado questionamentos dos EUA ao Pix

Sistema de pagamentos instantâneos brasileiro teria incomodado setores ligados ao dólar e a empresas norte-americanas
Por
Redação
EUA questionam práticas comerciais brasileiras, como o PIX. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

O governo dos Estados Unidos abriu uma apuração interna sobre práticas comerciais que considera desleais por parte do Brasil, e o Pix, sistema de pagamento eletrônico criado pelo Banco Central, aparece no centro das suspeitas. A concorrência com plataformas americanas e o impacto internacional da ferramenta explicam o desconforto.

Críticas ao modelo brasileiro
A investigação, anunciada na última terça-feira (15), foi formalizada pelo representante comercial Jamieson Greer, em documento intitulado “Investigação da Seção 301 sobre Práticas Comerciais Desleais no Brasil”. Embora o nome do Pix não tenha sido citado diretamente, o relatório menciona os “serviços de pagamento eletrônico promovidos pelo governo”.

Segundo o documento, há indícios de que o Brasil oferece vantagens desiguais a suas próprias plataformas digitais de pagamento, o que poderia representar desequilíbrio na competição com soluções estrangeiras.

WhatsApp Pay foi barrado no Brasil
Entre os possíveis motivos para o atrito, destaca-se a decisão do Banco Central e do Cade de suspender, em junho de 2020, o lançamento da função de transferências financeiras do WhatsApp. A plataforma de mensagens pertencente à Meta, de Mark Zuckerberg, aliado de Trump, pretendia transformar o Brasil no primeiro país a contar com esse serviço. No entanto, a iniciativa foi bloqueada dias após o anúncio.

Segundo os órgãos brasileiros, havia necessidade de avaliar a segurança da integração com o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e os possíveis impactos concorrenciais. A economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP, concorda com a medida: “O WhatsApp estava criando um mecanismo de transferência fora do sistema financeiro nacional, o que fugia da regulamentação vigente”.

Pix nasce sob ideal de neutralidade
O Pix foi oficialmente lançado em novembro de 2020, após dois anos de desenvolvimento por um grupo de trabalho do Banco Central. Desde o início, o sistema buscava ser neutro quanto a modelos de negócios e garantir um ambiente seguro, competitivo e acessível.

Pressão sobre o dólar preocupa os EUA
Outro fator que pode ter incomodado os americanos é o uso crescente do Pix em transações internacionais. Segundo Cristina, comerciantes de países como Paraguai e Panamá já aceitam o método de pagamento brasileiro, driblando o uso do dólar como intermediário. “Isso diminui a procura pela moeda americana e pode enfraquecê-la. É natural que o governo dos EUA reaja a essa perda de influência”, afirma.

Pix Parcelado amplia alcance
A previsão de lançamento do “Pix Parcelado” em setembro de 2025 pode ser mais um ponto de atrito. O novo recurso permitirá que consumidores brasileiros parcelem pagamentos, de modo similar ao cartão de crédito, enquanto o vendedor recebe o valor total na hora.Para a economista, isso ameaça diretamente operadoras de cartões de crédito, majoritariamente de origem americana.

Ferramenta de inclusão financeira
Apesar da polêmica, Mello defende o Pix como um meio acessível e revolucionário de bancarização. Dados do Banco Central mostram que, só em 2024, o sistema movimentou R$ 26,4 trilhões. “O Pix permitiu que pessoas de baixa renda tivessem acesso a meios digitais de pagamento. É uma inovação brasileira com impacto social concreto, que tornou transações mais baratas e simples”, conclui.

*Com informações da Agência Brasil.

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