sábado, 23 novembro 2024

Erros no currículo de novo ministro ameaçam permanência e posse no MEC fica incerta

As revelações de que o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, incluiu informações equivocadas em seu currículo geraram incertezas sobre a permanência dele à frente do MEC (Ministério da Educação). 

A nomeação de Decotelli foi publicada em edição extra do Diário Oficial na quinta-feira (25), após anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro. O governo planejava uma solenidade de posse nesta terça-feira (30), mas a realização do evento deve ser adiada. 

Aliados de Bolsonaro relataram que o mais provável é que a cerimônia ocorra só na semana que vem, após um pente-fino no currículo do novo ministro. 

Segundo relatos feitos à reportagem, Bolsonaro ficou incomodado com a repercussão negativa dos erros no currículo de Decotelli e de acusações de plágio em trabalhos acadêmicos de Decotelli. O mandatário se queixou de que não houve a repercussão positiva esperada com a nomeação de um nome técnico e que, nas redes sociais, o tema se converteu em novo flanco de desgaste. 

Decotteli foi escolhido para suceder Abraham Weintraub, que deixou o cargo após uma série de polêmicas com o STF (Supremo Tribunal Federal). 

A nova análise no currículo do ministro, ordenada por Bolsonaro. serve para apurar se há mais inconsistências, mas integrantes do governo que acompanham o tema dizem que o presidente não desistiu de confirmá-lo no cargo. 

A ala militar também criticou os erros apontados no currículo de Decotelli, uma vez que foi fiadora de sua indicação. Apesar do descontentamento, os militares decidiram não rever no momento o apoio dado ao ministro, diante do medo de que uma nova baixa no MEC leve Bolsonaro a optar por um nome da ala ideológica, mais ligada ao escritor Olavo de Carvalho. 

O próprio Decotelli tem mostrado a interlocutores preocupação com sua permanência e identifica perseguição da imprensa. A reportagem solicitou entrevista com o ministro, mas não obteve retorno. 

Os problemas com o currículo criaram também um constrangimento entre integrantes do próprio grupo que patrocinou seu nome, segundo pessoas com trânsito no MEC. O argumento é de que as notícias têm potencial de ridicularizar o governo no momento de necessidade de um sinal de seriedade com a Educação. 

A avaliação nos bastidores é de que, mesmo que seja mantido no cargo, o novo ministro chega enfraquecido à pasta, palco de disputas entre alas divergentes do governo. 

INCONSISTÊNCIAS 

Constava no currículo de Decotelli um doutorado pela Universidade Nacional de Rosário, da Argentina, mas o próprio reitor da instituição, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título. 

Há ainda sinais de plágio na sua dissertação de mestrado. 

Além disso, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, informou que o novo ministro não possui título da instituição, ao contrário do que constava em seu currículo, que mencionava um curso de pós-doutorado. 

A assessoria de imprensa do MEC disse na sexta-feira (26) que Decotelli concluiu os créditos das disciplinas necessárias para a obtenção do título de doutor na Universidade Nacional de Rosário. Ele também negou as acusações de que teria cometido plágio em sua dissertação de mestrado e afirmou que revisará o trabalho. 

“Em nenhum momento a Secom confirmou o evento à imprensa e, até agora, não há previsão para essa cerimônia”, afirmou nesta segunda-feira (29) o Planalto sobre a posse do novo ministro, marcada para esta terça. 

UNIVERSIDADE ALEMÃ NEGA PÓS-DOUTORADO DE DECOTELLI  

A Universidade de Wuppertal, na Alemanha, afirmou nesta segunda-feira (29) que Carlos Decotelli, indicado pelo presidente Bolsonaro como novo ministro da Educação, não possui nenhum título de pós-doutorado da instituição. Também declarou que o economista permaneceu na universidade como pesquisador visitante por apenas três meses, de janeiro a março de 2016, e não dois anos, como consta no currículo publicado pelo ministro na plataforma Lattes, mantida pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). 

De acordo com a assessoria de imprensa da universidade alemã, nesses três meses Decotelli desenvolveu pesquisa sob orientação da professora Brigitte Wolf, especialista em teoria do design com foco em metodologia, planejamento e estratégia. 

Na semana passada, a Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, negou que Decotelli tivesse concluído o doutorado na instituição, como afirmava em seu currículo Lattes. Segundo o reitor, Franco Bartolacci, a tese de Decotelli foi rejeitada. 

Após a declaração, o currículo Lattes de Decotelli foi alterado para dizer que ele havia obtido créditos na universidade, sem obtenção de título. 

O ministro foi acusado ainda de plagiar ao menos quatro trabalhos acadêmicos em seu mestrado, apresentado em 2008 na Fundação Getúlio Vargas do Rio, além de um relatório da Comissão de Valores Mobiliários. Ele nega as acusações e diz que revisará o trabalho. O ministrou não deu entrevista.  

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também