sábado, 23 novembro 2024

Governo anuncia fim do rodízio de energia, mas moradores do Amapá relatam falhas

Depois de 22 dias de apagões, transtornos e prejuízos, o governo federal anunciou nesta terça-feira (24) o fim do rodízio de energia em 14 das 16 cidades do Amapá. Macapá, a capital do estado, foi a mais afetada no período e teve suas eleições municipais remarcadas pela Justiça eleitoral. 

Apesar do anúncio, feito pelo Ministério de Minas e Energia do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), moradores de bairros de Macapá disseram à reportagem que o fornecimento de energia ainda não havia sido restabelecido por completo. 

Um incêndio destruiu os transformadores da subestação de distribuição de energia em Macapá, no dia 3 de novembro, e afetou o fornecimento de eletricidade para 90% da população do estado, que ficou no escuro por cinco dias, até o início do rodízio de energia elétrica, no dia 7. 

Nesta terça (24), o ministério de Minas e Energia informou que o segundo transformador da subestação Macapá entrou em operação por volta de 3h30, “sendo possível restabelecer completamente o fornecimento de energia elétrica no estado do Amapá”. 

“Aqui não voltou a energia, tivemos um dia só de energia durante essa semana. E agora está chovendo muito aqui e não tivemos um pingo de energia. Só Deus na nossa causa”, diz a dona de casa Maria Luiza Cordeiro, 62, moradora do Bailique, distrito de Macapá. Lá nem mesmo o rodízio de energia funcionou, conta Maria. 

Em trechos de bairros de Macapá a energia também não foi 100% restabelecida até a manhã desta terça (24). É o caso dos bairros Burutizal e Muca, na zona norte. 

Já no bairro Perpétuo Socorro, na zona leste da cidade, o rodízio foi encerrado durante a madrugada, mas o fornecimento ainda não está totalmente normalizado, dizem os moradores. As oscilações no fluxo de energia são constantes, relata a fotógrafa Dayane Oliveira, 29. 

“Hoje, [a energia] foi embora e, alguns minutos depois, voltou. E está assim também em outros bairros pelo que eu tenho conversado com alguns amigos, onde não estabeleceu 100% não, está oscilando. No Buritizal também estavam sem energia agora de manhã”, contou Dayane. 

Segundo a fotógrafa, as oscilações levam muita gente a agir como se não tivesse energia em casa, desligando os aparelhos por medo que queimem. “Muita gente perdeu aparelhos, televisão, geladeira, e continua perdendo. A carga volta mais forte toda vez que ela vai e volta”, explica. 

E o medo dela é real: o Corpo de Bombeiros do Amapá registrou ao menos 19 incêndios em residências desde o início do racionamento. Perícias apuram se a causa dos incêndios pode estar ligada a curto circuitos provocados pela oscilação de energia. 

afroempreendedor Willy Miranda, 34, também conta que há localidades da capital amapaense que sequer foram atendidas regularmente pelo racionamento. Todas essas regiões, diz ele, seguem no escuro. 

“Ainda tem locais sem nada [de energia]. Na cidade tem gente reclamando ainda e, neste momento, estou a caminho das comunidades quilombolas, para ver como está a situação por lá”, afirma Miranda, que também é diretor da Associação de Moradores do Quilombo do Curiaú. 

Em outros bairros, como o Renascer, na zona norte, o rodízio chegou ao fim durante a madrugada e o fornecimento de energia foi, enfim, regularizado, conta a técnica em saúde bucal Adriana Xavier, 34. “No meu bairro está normal, mas ainda tem outros bairros que estão ficando sem energia”. 

A CEA (Companhia de Energia do Amapá) informou, por nota, que “o rodízio do fornecimento de energia foi oficialmente encerrado” e que a normalização do serviço ocorreu após a entrada em funcionamento do segundo transformador, transportado da subestação de Laranjal do Jari, um dos dois únicos municípios do estado que não foi afetado pelo apagão. 

“Às 1h59 o transformador foi energizado e às 3h31 foi inserida carga na estrutura. Com esse transformador operando, o fornecimento foi garantido em 100%”, diz a nota da CEA, que não se posicionou sobre os relatos de falhas apontadas pelos moradores. 

O MME, por sua vez, disse que “o sistema elétrico do Amapá conta com o suprimento de dois transformadores na subestação Macapá [que conecta o estado ao Sistema Interligado Nacional], da geração da usina hidrelétrica de Coaracy Nunes e da geração térmica local instalada nesta semana”. 

APAGÃO NO AMAPÁ 

Macapá e mais 13 cidades do Amapá foram atingidas por um apagão após um incêndio destruir os transformadores da subestação de distribuição de energia, no dia 3 de novembro. 

A população afetada viveu dias apocalípticos, com corridas a supermercados em busca de alimentos e água, e também a postos de combustíveis. 

No incêndio, um dos transformadores que abastecia o estado foi totalmente destruído e, o outro, danificado, foi restaurado para permitir o início do rodízio, uma vez que, sozinho, ele não atende à demanda total do estado. 

O terceiro transformador, que garantiria a reserva energética de segurança ao Amapá, está em manutenção desde dezembro de 2019. 

Sem os transformadores necessários para garantir o fornecimento regular de energia a 100% do estado, o MME e a CEA decidiram contratar grupos de geradores para ampliar a geração na Usina Termelétrica de Santana. 

A promessa do governo federal era que os geradores iriam garantir o fim do racionamento a partir do último sábado (21), o que não aconteceu. 

No sábado, o presidente Bolsonaro (sem partido) visitou o Amapá e chegou a inaugurar o funcionamento de dois geradores da Termelétrica de Santana, mas apenas 20 dos 45 megawatts anunciados pela concessionária foram fornecidos. 

Um dia depois da visita do presidente, um trecho da zona norte de Macapá ficou novamente sem energia na noite do último domingo (22), após um curto circuito na rede elétrica de alta tensão provocar explosões em série. 

Segundo a CEA, o incidente foi pontual, provocado por um vendaval, que fez com que fios de alta tensão se tocassem, provocando as explosões, e afetou apenas o bairro Novo Brasil, na zona norte de Macapá, sendo solucionado ainda na madrugada desta segunda (23). 

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