O presidente Michel Temer disse ontem que o governo estuda a possibilidade de adotar o uso de senhas para organizar a entrada de venezuelanos no Brasil. Segundo ele, a medida tem como objetivo organizar a situação em Roraima. Em entrevista à Rádio Jornal, de Pernambuco, Temer reiterou críticas ao governo venezuelano por ter recusado a ajuda brasileira, o que, segundo o presidente, poderia ter evitado tantas migrações, bem como a “desarmonia no continente sul-americano”.
À Agência Brasil, o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República, Márcio Freitas, afirmou que a proposta é apenas uma cogitação e não há nada de concreto por enquanto.
O presidente criticou o que ocorre na Venezuela. “O governo deles [dos venezuelanos] inclusive recusou nossa ajuda humanitária e, depois, os venezuelanos acabaram vindo para cá. Nossa política é acolher aqueles que entrem no país, mas o ideal é que eles recebessem nossa ajuda humanitária e lá pudessem permanecer”, acrescentou.
Temer disse que o decreto publicado ontem, autorizando o emprego das Forças Armadas em Roraima, foi feito pensando nos cidadãos brasileiros que vivem no estado. “Tudo que o fazemos é em função do cidadão brasileiro. Mandamos mais de R$ 200 milhões para saúde e alimentação [em Roraima]. Estamos dando todo apoio aos venezuelanos com vistas também a proteger os serviços estaduais prestados aos brasileiros”, disse.
SENHAS
O presidente afirmou ainda que o governo cogita distribuir senhas para a entrada de venezuelanos no Brasil a fim de controlar melhor a entrada de imigrantes e dar melhores condições para a prestação de serviços públicos tanto para brasileiros como para venezuelanos.
“Outra providência que talvez venha a ser tomada é que, como entram entre 700 e 800 venezuelanos por dia, criam-se problemas para vacinação e para organização. Pensamos então [em] colocar senhas, de maneira que entrem [de] 100 a 200 por dia, para organizar um pouco mais essas entradas.”
REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA
A OEA (Organização dos Estados Americanos) convocou para o dia 5, sessão extraordinária do Conselho Permanente para discutir a “crise migratória” originada pela situação na Venezuela. Pelo comunicado, deverão participar o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, representantes da OIM (Organização Internacional de Migração) e integrantes do Escritório do Acnur (Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados).
Em um fórum realizado anteontem, na República Dominicana, já havia sido antecipado que o Conselho Permanente se reuniria para abordar o êxodo venezuelano.
Segundo a OIM e o Acnur, cerca de 2,3 milhões de venezuelanos vivem atualmente fora do seu país. Mais de 1,6 milhão saíram desde 2015 da Venezuela. Pelo menos 90% se encontram em distintas regiões da América Latina.
A Venezuela perdeu mais de 40% do seu PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos quatro anos e registra uma inflação disparada que pode alcançar 1.000.000% este ano.