sexta-feira, 19 dezembro 2025
PESQUISA INÉDITA

Inseticidas utilizados no Brasil podem comprometer a sobrevivência e capacidade de voo de abelhas 

Estudo da UFCG revela que a exposição aos inseticidas clorantraniliprole e ciantraniliprole compromete a mobilidade e a longevidade das abelhas, afetando a polinização e a coleta de néctar
Por
Redação
Abelha é fundamental na polinização de diversas culturas; estudo avaliou em laboratório efeito dos inseticidas nos insetos. Foto: Jeffrey W. Lotz/Wikimedia Commons

Um estudo desenvolvido na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em condições de laboratório, revela que a exposição das abelhas africanizadas aos inseticidas clorantraniliprole e ciantraniliprole reduz a sobrevivência e prejudica a capacidade de voo, fator essencial para atividades como coleta de néctar, polinização e retorno à colmeia. 

Sobre a pesquisa
Os resultados serão detalhados no artigo “Survival and flight ability of Apis mellifera after exposure to anthranilic diamide insecticides”, publicado no Brazilian Journal of Biology. O trabalho, apoiado pela Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), é resultado de uma pesquisa de mestrado da UFCG e foi orientado por Ewerton Marinho da Costa, engenheiro agrônomo, doutor em fitotecnia e docente da instituição.

Segundo o pesquisador, a ideia foi responder a uma demanda crescente dos próprios agricultores. “A principal motivação foi gerar informações para auxiliar na conservação das abelhas em áreas agrícolas. Essa é uma demanda dos produtores, que precisam de subsídios em relação aos efeitos de inseticidas sobre as abelhas para adoção de estratégias mitigadoras de risco”, afirma Costa.

Análises
A pesquisa comparou a mortalidade e as implicações motoras em abelhas expostas de duas maneiras: por pulverização direta e pela ingestão de dieta contaminada. As análises foram realizadas em laboratório. Os resultados mostraram baixa mortalidade para ambos os inseticidas, mas com diferenças importantes entre os modos de exposição. “Observamos que a exposição direta foi mais prejudicial às abelhas. Dentre os dois inseticidas, o ciantraniliprole causou os maiores percentuais de mortalidade”, relata o professor.

Além da sobrevivência, a equipe avaliou a capacidade de voo das abelhas, essencial para a polinização e para a manutenção da colônia. Costa enfatiza que impactos subletais podem comprometer todo o ciclo de produção agrícola. “A capacidade de voo das abelhas foi afetada, mesmo que de maneira sutil, após a exposição direta às gotículas da pulverização com os inseticidas”, diz. A comparação foi feita com abelhas pulverizadas com água destilada.

Relevância
De acordo com o engenheiro agrônomo, estudar a capacidade de voo é crucial porque existem inseticidas que podem não proporcionar elevada mortalidade, mas podem prejudicar a mobilidade dos insetos. Qualquer prejuízo na mobilidade pode proporcionar falhas na polinização e redução drástica na obtenção de alimento. 

Os cientistas também se surpreenderam com alguns resultados. “Mesmo conhecendo o mecanismo de ação dos inseticidas, surpreendeu o fato da baixa mortalidade proporcionada em ambos os modos de exposição em comparação com o controle positivo. Outro ponto que gerou impacto foi o efeito adverso na capacidade de voo”, destaca Costa. “Os resultados serão utilizados para orientar produtores sobre formas de mitigação de riscos para abelhas em condições de campo, destacando os ingredientes ativos mais prejudiciais e aqueles que causam baixa ou praticamente nenhuma mortalidade”, diz.

Apesar dos avanços, o pesquisador reforça que é necessário avaliar os inseticidas em condições reais de campo, levando em consideração fatores ambientais como temperatura, vento e horário de aplicação.

*Fonte: Agência Bori.

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