Os investimentos no Brasil, tanto públicos quanto privados, tiveram de 2011 a 2020 a pior década em 50 anos. Os aportes foram equivalentes a 17,7% do PIB (Produto Interno Bruto), o resultado mais fraco desde a década de 1961 a 1970, segundo estudo dos pesquisadores Juliana Trece e Claudio Considera, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas).
Além disso, pelos cálculos é possível observar que quase nove em cada dez países do mundo (87%) tiveram investimentos maiores do que os do Brasil no ano passado e que a pandemia não mudou a trajetória de baixa que era vista antes da crise sanitária.
“O Brasil ainda investe muito pouco, mesmo quando se compara com países similares. A pandemia traz dificuldades, mas este é um problema antigo”, diz Trece.
No ano passado, a taxa de investimento do país foi de 16,4% do PIB, mas já vindo de um histórico difícil desde a recessão de antes da pandemia, entre 2015 e 2016. Quando os pesquisadores comparam apenas as economias emergentes, os demais países investiram, em média, mais que o dobro do Brasil.
“Desde a década de 1980, vemos um ritmo de desindustrialização que afeta os investimentos. Um fator que colabora para isso é a taxa de investimentos oriunda da construção. Ela vem diminuindo sua participação”, diz a pesquisadora.
Os pesquisadores também concluíram que o país teve uma taxa de investimentos média de 2010 a 2014 de 20,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Com a recessão, do segundo trimestre de 2014 até 2016, os investimentos desabaram, com a taxa indo a seu menor nível, de 14,6%, em 2017.
De acordo com o estudo, foram quatro anos seguidos de queda real dos investimentos.
Na comparação de 2011 com o ano passado, a fatia dos investimentos em construção (desde obras pesadas de infraestrutura até na construção de residenciais) caiu 3,4 pontos percentuais, perdendo espaço para os aportes em máquinas e equipamentos -um desempenho que atrapalha tanto no volume de investimentos quanto em uma retomada mais robusta do mercado trabalho, já que o setor é um importante empregador.
Nas obras de infraestrutura, que demandam investimentos mais pesados, a queda na taxa se dá pelas dificuldades fiscais do país, no caso dos investimentos públicos. No caso da iniciativa privada, o investidor acaba optando por outros países em uma situação mais estável, lembra a economista.
“Estamos em uma situação ruim para o investimento público e com dificuldades de atração de investimento privado”, diz ela. Para a pesquisadora, as reformas estruturais que ainda não foram aprovadas seriam um caminho para retomar a confiança dos investidores e destravar investimentos, mas a pandemia obrigou o adiamento das discussões.
De acordo com o estudo, os resultados mostram a importância de reverter o cenário dos investimentos de construção. “Para que o PIB possa voltar a crescer a taxas mais robustas e com isso, possibilitar a redução da taxa de desemprego, é preciso que além dos investimentos em máquinas e equipamentos, a construção mereça atenção.”
“Primeiro, é preciso resolver a questão da pandemia, acelerando o processo de vacinação. Depois, precisamos continuar a resolver os problemas que vinham de antes da pandemia.”
Trece avalia que, historicamente, o pontapé inicial dos investimentos tende a ser por via pública, para alavancar um determinado setor, e o investimento privado costuma vir em seguida. “Apesar de termos de pensar em um ajuste fiscal, não tem como parar os investimentos públicos.”
Outra iniciativa importante, ela complementa, pode se dar por meio de concessões e privatizações. “Só não dá para ficar do jeito que está.”
Para este ano, os pesquisadores esperam uma melhora nos investimentos, mas ainda bem lenta e distante do nível de antes da recessão de 2015 e 2016. “Se a gente conseguisse voltar ao nível de antes da recessão, seria importante, por ser um dos maiores que o país já teve, mas o investimento parece travado.”