O jovem que ficou conhecido por ter sido tatuado na testa com a frase “Eu sou ladrão e vacilão” foi condenado nesta terça-feira (10) a quatro anos e oito meses de prisão em regime semiaberto. A sentença é por uma tentativa de roubo ocorrida em fevereiro deste ano.
Em 2017, na ocasião em que foi tatuado, o jovem Ruan Rocha da Silva invadiu uma pensão em São Bernardo do Campo (Grande SP) e foi flagrado por dois moradores no que seria a tentativa de roubo de uma bicicleta. Os homens o interceptaram e tatuaram a frase na testa de Ruan, então com 17 anos.
Na época o rapaz admitiu ser dependente químico -usuário de crack- e disse estar “muito bêbado”. Os dois homens que o tatuaram foram presos por lesão corporal gravíssima e constrangimento ilegal. Ruan, por sua vez, foi internado em uma clínica de reabilitação e teve um tratamento estético para a remoção da tatuagem oferecido gratuitamente.
Na madrugada do último dia 14 de fevereiro, o jovem entrou em um posto de saúde e pegou um celular no valor de R$ 500, uma blusa de moletom e mais R$ 20,30 de uma sala dos funcionários. Foi flagrado por uma das funcionárias ao sair da sala e detido, com a ajuda de um segurança.
No boletim de ocorrência, Ruan foi identificado pelo escrivão e a delegada do 1º DP de São Bernardo como “ladrão e vacilão” no campo “vulgo”. Para o advogado e conselheiro do Condepe (conselho estadual de direitos humanos), Ariel de Castro Alves, a conduta é uma violação dos agentes de segurança. “Seria uma forma até de apologia às torturas que o rapaz sofreu”, diz.
Segundo depoimento de Ruan à Justiça, ele entrou no posto para se abrigar da chuva e realizou o furto porque estava sob efeito de drogas. Na sentença desta terça, a juíza Sandra Regina Nostre Marques, da 1ª vara criminal de São Bernardo, afirma que um “eventual abrandamento da pena não será suficiente para dissuadi-lo de novas investidas criminosas”, e cita o seu histórico, que além do caso da tatuagem inclui um furto de desodorantes em Mairiporã (Grande SP), onde fez tratamento de reabilitação, e uma receptação quando adolescente.
Ariel de Castro Alves afirma que a Justiça “falhou em não observar que ele é um doente e comete crimes por causa da dependência de drogas”. Segundo Ariel, o vício de Ruan é “público e notório”, e por isso poderia ser pedido um exame pela Defensoria Pública ou pela Promotoria para comprovar a sua dependência. “Ele iria para tratamento. No sistema prisional ele não vai se recuperar, muito pelo contrário”, afirma. Cabe recurso à decisão da Justiça.