quarta-feira, 24 abril 2024

Justiça determina prisão de João de Deus

A Justiça aceitou ontem um pedido do Ministério Público de Goiás e determinou a prisão preventiva do médium João de Deus, 76, por suspeita de ter abusado sexualmente de mulheres durante atendimentos espirituais.

O médium, que mantém em Abadiânia (GO) a casa de curas Dom Inácio de Loyola, estava em local desconhecido até a conclusão desta edição, mas poderia ser preso pela polícia a qualquer momento.

Após relatos de dezenas de mulheres, a Promotoria do estado chegou a criar uma força-tarefa para recolher denúncias das supostas vítimas e afirmou já ter recebido 335 contatos, com mensagens principalmente por email.

O delegado-geral da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, disse à reportagem que policiais haviam percorrido mais de 20 locais em busca do médium até o começo da noite, mas que ele não foi localizado.

Segundo Fernandes, cerca de 15 policiais da força-tarefa responsável por investigar os casos faziam buscas pelo médium em Abadiânia e outros municípios de Goiás.

A defesa, porém, sinalizou em contato com a polícia a possibilidade de João de Deus se entregar, segundo o delegado. Por isso, a polícia ainda não o considerava foragido.

O médium nega as acusações de abuso sexual. Os advogados de João de Deus disseram inicialmente haver restrições ao direito de defesa, por falta de acesso aos autos, o que foi permitido mais tarde.

“Que a autoridade judiciária queira impor a [prisão] preventiva [de João de Deus], embora possamos discordar, é compreensível, mas negar acesso aos autos chega a ser assombroso”, disse trecho de nota dos advogados Alberto Toron e Luisa Ferreira. A defesa disse ainda que considera a ordem de prisão contra o médium “ilegal e injusta” e que impetrará um habeas corpus.

Os relatos de violência sexual foram feitos inicialmente por 13 mulheres ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, e ao jornal O Globo, no dia 8 de dezembro. Desde então, outras denúncias surgiram.

Na segunda, Aline Saleh, 29, contou sua história à Folha de S. Paulo: “Quem tem de sentir vergonha é ele, e não eu”. Ela diz que, em 2013, esteve na casa e que foi levada para um banheiro, posta de costas e que João de Deus colocou a mão dela em seu pênis.

Em comum, a maioria das mulheres diz que recebeu um aviso de procurar o médium em seu escritório ao fim das sessões em que ele atende aos fiéis. No local, segundo as vítimas, João de Deus dizia que elas precisavam de uma “limpeza espiritual” antes de abusá-las sexualmente. Entre as vítimas estariam adultas, crianças e adolescentes.

O promotor Luciano Miranda Meireles afirmou que os depoimentos podem ser a úncia forma de comprovar as acusações, já que crimes como estupro não ocorrem à luz do dia nem têm testemunhas.

Advogados dizem que decisão é ilegal 
Os advogados de João de Deus, 76, que é procurado pela polícia, disseram que o decreto de prisão preventiva autorizado pela Justiça é injusto e ilegal.

A equipe de defesa do médium afirmou que “apenas alguns depoimentos, de poucas vítimas” acompanham o pedido de prisão preventiva, sem nomes. Informa ainda que vai entrar com pedido de habeas corpus porque considera a decisão “ilegal e injusta”, mas que isso não exclui a apresentação espontânea de João de Deus.

João de Deus é suspeito de ter cometido abuso sexual contra uma centena de mulheres ao longo dos últimos 30 anos. Ele ainda não foi localizado pela polícia. Foram feitas buscas nos endereços dele em Anápolis, Goiânia e Abadiânia, além de fazendas.

Mandado de prisão causa tensão e silêncio em Abadiânia 
A possibilidade de prisão de João de Deus, morador mais famosos de Abadiânia (GO), desencadeou na cidade uma corrente de tensão e reforçou a ordem de silêncio que já imperava entre fiéis que frequentam o centro espiritual criado por ele.

Ontem, a Justiça de Goiás deferiu o pedido do Ministério Público de prisão preventiva do médium, alvo de acusações de abuso sexual por dezenas de mulheres.

A decisão acabou por afastar ainda mais alguns fiéis e turistas da Casa Dom Inácio de Loyola, instituição onde ele faz atendimentos espirituais.

Ontem, a casa, que já tinha queda de cerca de 50% a 70% no movimento, estava com boa parte das cadeiras vazias, e quase não havia filas.

Com poucos frequentadores, a maioria estrangeiros, o local também acabou por encerrar as atividades mais cedo, pouco antes das 16h. Em dias habituais, as orações se estendem até depois das 18h.

“É uma tristeza. Um trabalho tão bonito não pode terminar assim”, disse um voluntário que atua no local há cinco anos e que pede para não ter seu nome revelado.

Para o prefeito José Aparecido Diniz (PSD), a cidade pode perder até 1.300 empregos com o fechamento da Casa Dom Inácio -cerca de 30% do total.

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