quinta-feira, 18 abril 2024

Maconha criada em laboratório desafia sistema penitenciário

Uma nova droga, chamada de “maconha sintética” ou “k4”, está invadindo as cadeias, constituindo-se em desafio para as autoridades do sistema penitenciário. Produzido em laboratório, na forma líquida, o entorpecente simula os efeitos da erva original e é borrifado em papéis ou ervas de chá e outros objetos, para ser fumado, o que a torna de difícil identificação, dificultando a descoberta.

Nos presídios paulistas e da região, a droga tem sido localizada em cartões, em selos, fotografias, em rolo de papel higiênico e até bíblia. Segundo levantamento da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo), desde outubro de 2018, quando foi feita a primeira apreensão na região, até maio deste ano já foram oito ocorrências de “k4” descoberto nas cadeias da RMC (Região Metropolitana de Campinas) – média de uma por mês.

São nove unidades prisionais na RMC, em Hortolândia, Campinas, Americana e Sumaré. Ao divulgar o número de apreensões, a SAP, contudo, não especificou em quais das unidades as drogas foram descobertas. A reportagem apurou que uma das três apreensões registradas neste ano na RMC foi na Penitenciária III de Hortolândia, no último dia 25 de maio, quando uma visitante, companheira de um preso, foi flagrada por agentes ao passar na inspeção.

A primeira apreensão no sistema penitenciário paulista aconteceu na véspera do Natal de 2017, na Penitenciária de Presidente Bernardes (580 km de SP). Depois disso, somente em 2018, foram mais de 60 apreensões. Por ser camuflada em papeis (como o LSD, ou ácido lisérgico), tecidos e outros objetos, a droga oferece maior grau de dificuldade para ser detectada, admitem autoridades do sistema penitenciário.

E por se tratar de um novo tipo, logo após as primeiras apreensões da “K4”, no ano passado, a SAP diz ter promovido treinamentos junto a equipes de segurança de presídios paulistas, com instruções para identificá-la. Além disso, alguns objetos com os quais as visitas podiam entrar passaram a ser proibidos, especialmente os feitos em papel ou o pano, que podem ser impregnados com a droga.

A droga age de forma “mais intensa” no organismo, em comparação à maconha natural. “O THC (tetrahidrocanabinol, a substância que dá o feito na maconha natural) age parcialmente no cérebro. Já a droga sintética, na grande maioria, ativa com intensidade maior, de forma quase total, os receptores cerebrais, gerando um efeito mais intenso”, afirma Renato Filev, pesquisador na área de neurociência do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Ele diz que a droga começou a ser desenvolvida em laboratórios chineses. Segundo o pesquisador, não é possível estimar “o quão mais fortes” são as substâncias sintéticas, que no Brasil também são produzidas em laboratórios clandestinos.

MALEFÍCIOS

Os efeitos a longo prazo da “K4” em seres humanos ainda não são totalmente conhecidos, mas os peritos em controle de envenenamento informam que os efeitos da maconha sintética podem ser fatais. Ela pode causar dependência e levar aos sintomas de abstinência como fissura, pesadelos, suor excessivo, náusea, tremores, dores de cabeça, cansaço extremo, insônia, diarreia, vômitos e não deixar a pessoa pensar com clareza e negligenciar outros interesses ou deveres. Usuários que consomem a droga repetidas vezes e, por um longo período de tempo, podem sofrer de esquecimento, há casos de insuficiência renal, confusão mental e alguns usuários tiveram paralisia.

EDSON SILVA E FOLHAPRESS

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também