sábado, 20 abril 2024

Médico e paciente da Prevent relatam fraudes e pressão por ‘kit Covid’

Em depoimento à CPI da Covid, Walter Souza Neto e Tadeu Andrade confirmam denúncias contra operadora 

ACUSAÇÃO | Tadeu Andrade (à esq.) e o médico Walter Correa de Souza Neto na CPI (Foto: Divulgação/ Agência)

Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (7), um ex-médico da Prevent Senior e um cliente da operadora de saúde relataram supostas fraudes praticadas pela Prevent Senior e reafirmaram suspeitas contra a empresa. Eles ainda confirmaram pressão pelo uso do “kit Covid”, formado por medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, em pacientes.

O médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da Prevent, e o advogado Tadeu Frederico Andrade, ex-paciente com Covid-19 da operadora de saúde, depuseram à Comissão Parlamentar de Inquérito como forma de encerramento dos trabalhos de apuração sobre as suspeitas que cercam a empresa. As informações de cada um complementaram a fala do outro ao longo da oitiva.

Segundo Souza Neto, os médicos da Prevent recebiam ordens e eram pressionados pela empresa para prescrever medicamentos do chamado “kit Covid”, como cloroquina e ivermectina, que não têm eficácia comprovada contra o coronavírus, embora os profissionais soubessem que se tratava de uma “fraude”.

“No começo, existia ainda uma esperança. Essa coisa que foi citada de que os pacientes… Ninguém vai a óbito, ninguém intuba.” Isso já era muito claro, a gente sabia que era fraude. […] Eles estão dizendo que os pacientes estão… na mídia, que não houve ninguém intubado, mas, não, eu internava pacientes que haviam tomado o kit, acompanhava esses pacientes depois pelo prontuário durante a internação e via esses pacientes internarem, irem a óbito, e acontecia a mesma coisa. Então, a gente sabia que não era”, declarou. “Eu não fazia isso [de prescrever] fora da Prevent, mas, na Prevent, eu chegava a fazer e avisava sempre os pacientes de que não havia evidência”, acrescentou, em outro momento.

PALIATIVO
O médico ainda afirmou que havia pressão gerada pela “cultura” da Prevent para que se adotasse o tratamento paliativo mesmo quando algum profissional acreditava que o paciente tinha condições de ser tratado.

“Muitas vezes, no pronto atendimento, quando você estava internando um paciente, você já era pressionado por aquele médico que era o guardião, o chefe do plantão: ‘E aí, você já paliou esse paciente? Você já…’. ‘Não, mas eu acho que ele é…’ ‘Não, eu não acho que ele é viável, você não vai pedir UTI, é enfermaria porque nós já vamos paliar, conversa com a família, conversa com a família e já coloca ele no paliativo.’ Então, assim, você era pressionado para fazer esse tipo de coisa, porque essa era uma forma de gerir os recursos.”

A paliação é uma abordagem que visa colocar o paciente com uma doença incurável no cerne do cuidado e diminuir o seu sofrimento, respeitando até o último momento os seus desejos e a sua individualidade. Ou seja, é um conjunto de práticas de assistência recomendada a pessoas que se encontram em fase terminal e irreversível.

Tadeu Frederico Andrade afirmou que os médicos da Prevent Senior prescreveram o tratamento paliativo, com base em morfina para aliviar o sofrimento até sua morte, com base no prontuário de outra pessoa.

O paciente afirmou que os médicos voltaram atrás após ameaças de sua família de que ingressaria com ação na Justiça e denunciaria o caso à imprensa. Ele sobreviveu à doença.

Andrade argumenta que o prontuário usado como base para receitar o tratamento paliativo levava em conta comorbidades, que ele não tem. E aponta que o documento se referia à outra pessoa.

“Nessa reunião, eles convencem, tentam convencer a minha família de que, pelo prontuário na mão, que eu tinha marcapasso, que eu tinha sérias comorbidades arteriais e que, enfim, eu tinha uma idade muito avançada. Só que esse prontuário não era meu, era de uma senhora de 75 anos. Eu não tenho marcapasso, a única coisa que eu tenho hoje é pressão alta, sempre tive pressão alta”, afirmou.

A Prevent Senior divulgou uma nota nesta quinta-feira (7) na qual nega que tenha iniciado o tratamento paliativo a Tadeu Frederico Andrade sem autorização da família. 

Receba as notícias do Todo Dia no seu e-mail
Captcha obrigatório

Veja Também

Veja Também