quarta-feira, 24 abril 2024

Ministério da Saúde retém 3 milhões de novos testes de Covid-19, e secretários pedem entrega imediata

O Ministério da Saúde recebeu 3 milhões de testes de antígeno para a Covid-19, modelo mais ágil que o distribuído hoje pela pasta, mas mantém o lote em estoque. Os exames chegaram ao país entre 13 e 17 de maio.

Antes de enviar o produto aos estados, o ministro Marcelo Queiroga quer definir critérios para distribuição. Ele planeja ainda um evento sobre a nova política de diagnósticos do SUS, segundo fontes do governo federal.

A demora para a entrega dos testes irritou secretários estaduais, que dizem não terem sido avisados da importação. Pelo menos desde outubro o ministério é cobrado por gestores do SUS para a compra deste modelo.

“Não temos tempo a perder. Não dá para ficar teorizando agora sobre como é a forma adequada ou não de combater a pandemia”, disse o presidente do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), Carlos Lula.

Procurado, o ministério não explicou o motivo para reter os exames.

Segundo gestores do SUS que acompanham a discussão, a ideia de Queiroga é conversar na próxima semana com representantes de estados e municípios para definir um critério para a entrega.

O exame está armazenado em almoxarifado do Ministério da Saúde, em Guarulhos (SP). Secretários estaduais reclamam que os critérios de entrega dos testes dos novos testes recebidos deveriam ter sido definidos antes da chegada do produto.

O exame de antígeno entrega o resultado em menos de uma hora e não exige análise dentro do laboratório. O produto é considerado adequado para testagem em massa e rastreio de contatos de pessoas infectadas.

Desde que assumiu o ministério, Queiroga promete lançar nova política de testagem no SUS com esse exame como pilar.

Hoje, o ministério distribui testes do tipo RT-PCR, considerado padrão-ouro para o diagnóstico, mas que pode levar dias para apresentar o resultado da análise.

Na semana passada, a pasta reconheceu que um lote de 1,7 milhão de exames desse modelo perderá a validade. Há ainda cerca de 1,9 milhão de testes estocados. Praticamente todo o volume vencerá até metade de junho.

Fora da validade, o exame não pode ser aplicado para detecção da doença e deve ser incinerado, como afirmou a pasta ao MPF (Ministério Público Federal) ou usado em pesquisas.

Em abril, por exemplo, havia 2,3 milhões de testes de Covid prestes a vencer, segundo documento da pasta enviado à CPI da Covid.

Ainda há dúvidas no ministério sobre como o teste de antígeno será aplicado. Uma alternativa já levantada por Queiroga é para rastrear casos entre usuários de transporte público.

Os novos testes foram comprados por meio da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) e são da marca Abbott.

A mesma entidade já havia oferecido esse modelo de exames ao Brasil no dia 26 de novembro, conforme documento obtido pelo jornal Folha de S.Paulo. Segundo fonte do governo, o ministério recusou a compra, que poderia chegar ao Brasil em um mês, ou seja, no fim de 2020.

As informações sobre o estoque de exames e a oferta da Opas foram enviadas ao gabinete do deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), ex-ministro da Saúde.

“Os estados e municípios estão sofrendo com mais uma onda de internações e há milhões de testes encalhados no galpão do Ministério da Saúde”, disse Padilha.

Para gestores do SUS, o lote que já chegou ao Brasil é pequeno. O ministério ainda deseja comprar mais 14 milhões de exames de antígeno.

O edital para a aquisição ainda não foi lançado e não há previsão de quando o produto será entregue ao SUS.

A política de testagem na pandemia é tema de análise da CPI da Covid no Senado. O TCU também avalia abrir processo específico sobre suposta omissão do governo federal na entrega de testes na pandemia.

O ministério chegou a colocar como meta fechar 2020 com mais de 24 milhões de testes RT-PCR feitos no SUS, mas até agora cerca de 17,2 milhões foram feitos.

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