O Ministério Público do Trabalho abriu três inquéritos civis para acompanhar os processos de demissão dos funcionários da Ford no Brasil.
Na segunda-feira (11), a empresa anunciou o encerramento das atividades das fábricas de Camaçari, na Bahia, e Taubaté, em São Paulo. Uma terceira planta fabril instalada em Horizonte, no Ceará, será fechada até o fim do ano. Cada inquérito se refere às demissões em uma das fábricas.
Os procuradores também criaram um grupo especial para coordenar e criar estratégias de mitigação dos efeitos do encerramento das atividades nas fábricas.
Em audiência com o procurador-geral do trabalho, Alberto Balazeiro, representantes da montadora se comprometeram a encaminhar ao MPT e ao governo federal todos os dados que forem requisitados nos próximos dias.
Pela Ford, participaram da audiência o diretor jurídico, Luís Cláudio Casanova, o gerente de Relações Governamentais, Eduardo Freitas, e três advogados da empresa.
Balazeiro diz que a reunião pretendia garantir um canal de diálogo com a Ford, que permita a coleta de informações sobre a desmobilização da força de trabalho.
Os reflexos sociais das demissões e a empregabilidade dos trabalhadores da montadora e da cadeia produtiva no entorno são fontes de preocupação, segundo o chefe do MPT.
Oficialmente, os metalúrgicos das duas fábricas ainda não foram demitidos. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Claudio Batista, a empresa chamou os trabalhadores para uma reunião na próxima segunda-feira (18).
Em Taubaté, 830 pessoas trabalhavam na produção de motores e transmissões, e cerca de 600 terceirizados atuavam em áreas como limpeza e logística. O sindicato calcula que 10 mil empregos estejam em risco na cadeia produtiva.
Na fábrica de Camaçari, onde eram produzidos os modelos EcoSport e Ka, o impacto é ainda maior dado o tamanho do quado, superior ao da fábrica de Taubaté.
A Ford diz que não vai se manifestar sobre a audiência ou os inquéritos.
Em nota, a montadora que os planos de demissão serão debatidos com os sindicatos e que trabalhará intensamente com “os sindicatos, nossos funcionários e outros parceiros para desenvolver medidas que ajudem a enfrentar o difícil impacto desse anúncio.”
Na terça-feira, mesmo dia em que protestos foram realizados nas três cidades afetadas pela decisão da Ford, uma reunião no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista) discutia os primeiros passos de uma força-tarefa para requalificar e recolocar os trabalhadores da planta de Taubaté.
“O governo, através da secretária [de Desenvolvimento Econômico] Patricia Ellen, se posicionou para trabalhar em qualificação e recolocação no mercado. Mas nós estamos em outro ponto. Os trabalhadores querem a fábrica aberta e os empregos mantidos”, diz Batista, do sindicato.
Também participaram da reunião o secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vignoli, e o presidente da Investe SP (agência de fomento do governo), Wilson Mello.
Em outra frente, a força-tarefa do governo de São Paulo quer buscar alternativas para fábrica. A administração baiana também anunciou que começaria a sondar interessados na planta.
O Ministério da Economia também montou um grupo de trabalho para avaliar o fechamento das unidades fabris e para entrar em contato com outras montadoras que possam se interessar em assumir as plantas.
Em Taubaté, os metalúrgicos seguem em vigília. Grupos revezam turnos de seis horas para impedir que a empresa retire equipamentos ou comece a desocupar o prédio. Na quarta, os metalúrgicos do município fizeram mais uma plenária, essa na Câmara de Vereadores, e aprovaram a realização de uma audiência pública no dia 20.
Como a Assembleia Legislativa de São Paulo está com acesso restrito devido à pandemia, a audiência será virtual.
Nesta quinta, os trabalhadores da GM em São José dos Campos, município vizinho a Taubaté, aprovaram uma moção de solidariedade e apoio ao movimento contrário à saída da Ford do Brasil. Segundo o sindicato de São José, cerca de 1.500 trabalhadores da GM participaram da assembleia.