As mortes provocadas em decorrência de complicações da Covid-19 despencaram 62% em Araraquara (a 273 km de São Paulo) em abril, em comparação com março, pior mês da pandemia na cidade do interior paulista.
O município, que virou símbolo no estado do avanço da variante brasileira da doença, viu explodir o total de óbitos a partir do final de janeiro e, nos dois primeiros meses do ano, registrou 117 mortes, ante as 92 do ano passado inteiro.
Em março, recorde, foram 129, número que caiu para 49 em abril conforme dados do comitê de contingência do novo coronavírus da cidade –o acumulado desde o início da pandemia é de 387 óbitos. Também caíram os novos casos e o total de moradores da cidade internados.
O cenário vai na contramão do que ocorreu no país, que bateu nesta quinta-feira (29) a marca de 400 mil mortes, 100 mil delas num intervalo de apenas 36 dias, o que representa 33% de crescimento desde 24 de março.
A prefeitura, governada pelo ex-ministro (Secom) Edinho Silva (PT), atribui a redução no total de óbitos no período ao lockdown que foi feito entre fevereiro e março, com restrição absoluta de circulação no município, e a medidas como as barreiras sanitárias adotadas desde então e que ainda estão em funcionamento.
As restrições foram criticadas nesta quinta pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que usou uma ação de distribuição de alimentos feita pela Ceagesp na cidade para atacar o lockdown araraquarense.
“Nesse momento, comboio parte da Ceagesp rumo a Araraquara/SP, levando alimentos para aqueles vitimados pela política do ‘fique em casa que a economia a gente vê depois'”, disse o presidente em redes sociais.
Edinho reagiu e disse que Bolsonaro poderia fazer isso sem humilhar as pessoas. “Mas o presidente Jair Bolsonaro poderia fazer isso sem humilhar as pessoas, sem que elas ficassem em uma fila indiana por horas, no meio da rua, de madrugada, ou durante o dia, debaixo do sol, sem água, para pegar uma sacola de alimentos”, disse ele, que ressaltou que a ação do Ceagesp durou apenas um dia e que a prefeitura tem combatido a fome “não um dia, para gerar imagens, mas todos os dias”.
Araraquara tem 183 internados nesta sexta-feira, dos quais 93 são moradores de Araraquara e 90 são de outras 23 localidades, que foram transferidos para hospitais do município. Desses, 47 estão em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), que têm ocupação total de 90%.
Além dos óbitos, também caíram em abril o total de novos casos da doença, que teve seu ápice em fevereiro, com 4.218. Após as medidas restritivas, em março o total caiu para 2.780 e, em abril, foram 1.659 novos registros. Em relação ao mês anterior, a queda foi de 40,3%.
Desde o início da pandemia, Araraquara, que tem 238 mil habitantes, registrou 19.013 casos da Covid-19.
Além de implantar novos leitos e decretar o lockdown com severas restrições nos sete primeiros dias, Araraquara apostou em usar um antigo motel como unidade de quarentena (para quem não tem condições de se isolar em casa), uma igreja como extensão da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Xavier, passou a monitorar o esgoto da cidade (para ver em quais regiões a incidência do vírus está maior), adotou barreiras sanitárias e iniciou o tratamento de pacientes com plasma contra Covid-19, em parceria com o Butantan.
O projeto com o instituto foi iniciado na última sexta-feira (23), segundo a secretária da Saúde de Araraquara, Eliana Honain, após a construção de um fluxograma com os profissionais da saúde para poder identificar os pacientes suscetíveis ao tratamento e ter segurança para fazer o encaminhamento.
“Esperamos com isso diminuir o número de complicações, é importante participar de um projeto tão arrojado, num momento tão difícil, na procura de uma terapia que possa auxiliar a população que se contamine pelo coronavírus”, afirmou a secretária.