quinta-feira, 25 abril 2024

Nancy Pelosi chega a Taiwan e abre crise entre Estados Unidos e China

Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA ignorou ameaças de Pequim e chegou a Taipei ontem 

POLÊMICA | A presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi (foto: reprodução)

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, seguiu em frente com seu desafio à China e pousou em Taiwan para a primeira visita do tipo em 25 anos nesta terça (2). A China promete reagir militarmente à provocação, abrindo a mais grave crise em anos entre as duas maiores economias do mundo em meio à tensão mundial provocada pela Guerra da Ucrânia, na qual Pequim apoia a Rússia de Vladimir Putin.

Pelosi está em uma visita à Ásia, onde chegou a Singapura na segunda (1º) antes de rumar para a Malásia. Suas duas próximas paradas oficiais são Japão e Coreia do Sul, mas o desvio para Taiwan já era especulado desde a semana passada. Ele enfureceu a China, que considera a ilha uma província rebelde desde que um regime autônomo capitalista foi lá formado pelos derrotados na revolução que levou os comunistas a estabelecer sua ditadura em 1949.

“Em face ao desprezo irresponsável dos EUA às representações repetidas e sérias da China, qualquer contramedida tomada pelo lado chinês será necessária e justificada”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Hua Chunying, para quem os americanos “irão pagar” pela visita. A chancelaria depois emitiu nota considerando a viagem extremamente perigosa.

As Forças Armadas de Taipé, por sua vez, entraram em alerta máximo nesta terça. Em seu site, informaram estar prontas para quaisquer ações de Pequim -a expectativa é de que seja lançada uma grande incursão aérea para testar suas defesas. O Comando Militar Leste do país informou haverá “ações militares direcionadas” devido à visita. Assim que o avião da deputada pousou, às 22h43 (11h43 em Brasília), surgiram relatos de caças Sukhoi Su-35 da China sobre o estreito de Taiwan, que foram depois negados pelo governo local.

“A visita de nossa delegação congressual honra o comprometimento inabalável dos EUA com o apoio à vibrante democracia de Taiwan”, disse Pelosi ao desembarcar. Ela se encontra na quarta (3) com a presidente Tsai Ing-wen.

APOIO

A China vê quaisquer gestos políticos em favor de Taipei como um apoio ao ideal independentista na ilha. Em 1997, na última vez que alguém com o cargo de Pelosi esteve em Taiwan, no caso o republicano Newt Gingrich, os chineses tiveram de engolir a desfeita.

A situação agora é diferente, pois a China ascendeu ao posto de potência desafiante na arena global. Não tem a musculatura militar dos EUA, com um orçamento de defesa equivalendo a um quarto do americano, mas sua assertividade política e econômica expandiu- -se sob o governo de Xi Jinping, iniciado em 2012.

Por causa disso, Washington reagiu com a Guerra Fria 2.0, disparada em 2017 como um embate tarifário, mas que rapidamente espraiou-se por todas as costas de atrito possíveis. Taiwan é a mais sensível de todas: de lá para cá, autoridades americanas têm visitado a ilha e a cooperação militar segue em alta.

A ida de Pelosi fez explodir a retórica chinesa. Em um telefonema ao presidente Joe Biden, Xi disse que os EUA precisavam respeitar o princípio de “uma só China” que rege o reconhecimento bilateral dos países -de forma ambígua, desde 1979 Washington ao mesmo tempo aceita a soberania de Pequim sobre Taiwan e dá apoio militar à ilha, prometendo defendê-la em caso de guerra.

Biden, que chegou a dizer considerar a viagem uma má ideia, não tinha muito o que fazer -isso se não apoiou a aliada democrata em privado, como é provável, já que o partido de ambos está em má posição para as eleições parlamentares de novembro e um espetáculo de força externa viria a calhar.

Nesse sentido, o assassinato pelos EUA do líder da rede terrorista Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, se encaixa no roteiro. O que não está previsto é a possibilidade de um embate direto com a provável reação chinesa: uma guerra é tudo o que a economia americana em recessão não precisaria, dada a interligação com as estruturas chinesas.

Do lado chinês, a lógica não é diferente: Xi será reconduzido a um inaudito terceiro mandato em novembro e está enfrentando grandes dificuldades econômicas. Falar grosso com os EUA é bom para o público interno; um conflito aberto, não.

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