quinta-feira, 25 abril 2024

‘Não sabia que o outro lado seria assim’, diz diretor da USP

“A universidade, historicamente, sempre foi um ambiente de uma esquerda mais presente. O que a gente não sabia era que o outro lado [direita] viria a se manifestar assim.” A análise é de Fábio Frezatti, diretor da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), da Universidade de São Paulo.

Uma das faculdades de maior prestígio da USP, a FEA entrou no centro de uma polêmica na segunda-feira, após a divulgação de uma fotografia clicada em uma sala da instituição que mostra quatro rapazes com armas, cartazes de ódio às mulheres e simpatia à campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

“A diversidade de opiniões não é ruim porque é própria do ambiente universitário. O que é ruim é a agressividade e a falta de respeito. Esse tipo de comportamento não era evidenciado até então”, completa o diretor que leciona na USP há 21 anos.

De acordo com Frezatti, os três jovens que aparecem na fotografia com o rosto à mostra foram identificados, mas não tiveram os nomes divulgados oficialmente. Eles são estudantes do curso de administração da FEA. O quarto integrante da foto, que segura uma bandeira nacionalista americana, ainda não é conhecido. A Folha de S.Paulo procurou, mas não conseguiu localizar os universitários envolvidos.

Todos eles vão responder a uma sindicância interna aberta pela faculdade para apurar a responsabilidade de cada um na fotografia ofensiva. A comissão de investigação, formada por um professor de cada curso da FEA, terá 60 dias para concluir o caso e emitir uma penalidade, que varia de uma advertência verbal à expulsão.

Os estudantes envolvidos no caso vão poder frequentar as aulas normalmente durante a apuração. “As pessoas esperam soluções muito rápidas, mas temos que seguir todo um roteiro jurídico para garantir uma decisão adequada e justa.”

Para o dirigente da FEA, o que mais assustou na fotografia foi a exaltação às armas, mesmo se elas forem de brinquedo. “A gente não imagina em um ambiente que prega a liberdade e respeito exista alguém com esse tipo de pensamento. É um tipo de posicionamento que causa surpresa e decepção.”

O caso, segundo o diretor, representa um alerta. “Vamos ter que ampliar os nossos canais de comunicação e acompanhamento dos estudantes para não acontecer nos corredores da FEA o que vimos nas ruas durante as eleições”. A FEA possuía 2.622 alunos matriculados em 2016 (dado mais atual), segundo estatística da USP.

Uma das medidas é o fortalecimento da comissão de bem-estar, responsável por prestar auxílio psicológico aos alunos.
“É um retrato misógino e violento, de caráter fascista, que ameaça os direitos democráticos da coletividade dos estudantes”, segundo o Centro Acadêmico.

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