terça-feira, 23 abril 2024

Óleo pode prejudicar 144 mil pescadores

As manchas de óleo que atingem o litoral nordestino desde 30 de agosto têm potencial para restringir o trabalho de até 144 mil pescadores e marisqueiros dos nove estados da região. Esse é o número de profissionais da pesca cadastrados nas 77 cidades cujo litoral foi atingido pelo óleo, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.

Na quarta-feira (16), a ministra Tereza Cristina anunciou que o governo vai antecipar em um mês o pagamento do seguro-defeso para as comunidades de pescadores no Nordeste que tenham sido afetadas pelas manchas de óleo.

O seguro-defeso é um auxílio, no valor de um salário mínimo, concedido a pescadores no período de parada temporária da atividade para a reprodução e preservação das espécies.

O Ministério da Agricultura informou que ainda não é possível estimar quantos pescadores terão benefício antecipado. Os beneficiários serão identificados a partir de um estudo do Ibama sobre as áreas afetadas.

Desde o início da chegada das manchas no litoral, no fim de agosto, o Ibama tem orientado os pescadores a não entrarem em contato com o óleo. Parte dos profissionais tem seguido a orientação.

Em Conde, na Bahia, a 181 km de Salvador, os pescadores estão há duas semanas sem ir ao mar, já que há possibilidade de contaminação dos peixes. “Mesmo que esteja bom para consumo, as pessoas não vão querer comprar o peixe da nossa região”, afirma Genival Batista, presidente da colônia de pescadores de Conde.

A Bahia Pesca, estatal do governo da Bahia, identificou 13.375 pescadores e marisqueiros de oito cidades que foram diretamente afetadas pela chegada do óleo na região e discute ações para reparar os danos das famílias.

O órgão também fará a coleta de peixes e mariscos para a análise da Vigilância Sanitária e Ambiental, que determinará se o pescado é próprio para consumo ou se está contaminado.

Depois de um arrefecimento na chegada das manchas ao litoral, o óleo voltou a aparecer nas praias com mais força na semana passada na Bahia, em Sergipe, Alagoas e Pernambuco.

ÓLEO | Bombeiros e voluntários limpam praia de Cabo de Santo Agostinho (PE)

A praia de Carneiros, considerada, ao lado de Porto de Galinhas, a joia turística do litoral sul pernambucano, amanheceu na sexta (18) coberta de óleo. O local é um dos mais procurados pelos turistas de várias partes do país. Só em Pernambuco, 958 toneladas de óleo foram recolhidas até a última sexta-feira (25). 

Diante do caos, donos de pousadas e hotéis se juntaram a pescadores e moradores da região para retirar em um mutirão o material poluente.

Segundo a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens), que monitora a situação nas praias há duas semanas, o movimento em outubro, mês de baixa temporada no Nordeste, está dentro do esperado. A entidade diz que, até o momento, não houve cancelamentos.

A Decolar também afirmou, em nota, que não registrou desistências e disse que “os destinos nordestinos continuam no ranking dos mais procurados pelos brasileiros”. O biólogo Clemente Coelho Júnior, conselheiro da área de preservação ambiental Costa dos Corais, em Pernambuco e Alagoas, afirma que os danos ambientais são permanentes e muitas vezes invisíveis.

Ele explica que, com o tempo, o óleo passa por um processo de decomposição: vai ficando mais denso e libera metais pesados e outras substâncias tóxicas. No total, 233 pontos em 77 municípios do Nordeste foram atingidos até sexta (25). Em Alagoas, o material chegou à praia e à área de proteção ambiental de Maragogi, uma das praias mais conhecidas e visitadas do estado.

OUTROS LOCAIS

O petróleo também cobriu a praia de Japaratinga, no mesmo estado, a qual já havia sido afetada no início de setembro. No local, há um projeto de conservação para proteção do peixe- -boi, espécie ameaçada de extinção.

Em Sergipe, 17 praias e oito rios foram atingidos pelas manchas. Apenas em Aracaju, foram recolhidas 231 toneladas de óleo. Na Bahia, o óleo atingiu esta semana 11 praias de Salvador, incluindo pontos turísticos como o Farol da Barra. Até as 18h desta sexta-feira, mais de 100 toneladas de óleo haviam sido recolhidas na capital. As manchas chegaram também à baía de Todos-os-Santos. 

GOVERNO PUBLICA GUIA PARA VOLUNTÁRIOS NAS PRAIAS 

A Defesa Civil e o Ministério da Saúde publicaram na sexta-feira (25) uma cartilha com recomendações para os voluntários que atuam na limpeza das praias afetadas pelo derramamento de petróleo no litoral do Nordeste. Também foram distribuídos equipamentos de proteção individual para a população da região.

A cartilha recomenda que a população não entre em contato direto com o óleo, especialmente gestantes e crianças. Também é preciso observar as orientações da vigilância sanitária para o consumo de alimentos, como peixes e mariscos, provenientes das áreas afetadas.

Segundo a cartilha, a curto prazo a inalação dos vapores do óleo pode provocar dificuldade de respiração, dor de cabeça, confusão mental e náusea. Na pele, podem aparecer irritações e outros sintomas como erupções vermelhas, queimação, inchaço.

No caso de ingestão do óleo, o paciente poderá sentir odores abdominais, além de ter vômito ou diarreia. Uma exposição a esse elemento tóxico de longo prazo pode provocar danos a órgãos como pulmões, fígado e rins. Desequilíbrios hormonais e infertilidade também podem ocorrer, além de alterações no sistema nervoso. 

SAIBA MAIS

Recomendação:
– O governo de Pernambuco recomendou que a população evite banho de mar apenas em praias onde a mancha de óleo que atinge estados do Nordeste ainda esteja visível. Biólogos defendem o fechamento imediato das faixas do litoral afetadas até que se faça uma análise química completa da água poluída.

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